TEXTO DO LEITOR
Lançamentos de Star Wars estão acontecendo num ritmo jamais visto sob o comando da Disney, e isto não é uma surpresa. Ter Star Wars na telona todo ano pode ser bom para os fãs que desejam “sempre mais” e uma saturação para alguns fãs que podem ver os filmes como “mais do mesmo” ou “isso não é mais Star Wars”.
Vocês devem ter lido aqui na Sociedade Jedi a declaração de Bob Iger, CEO da Disney, ao Hollywood Reporter, declarando que “Star Wars irá desacelerar”.
Não estamos falando de uma pausa completa, mas de uma maior distância entre os lançamentos dos filmes principais. O Episódio IX, ainda sem título anunciado, está previsto para dezembro de 2019, dando um fim a terceira trilogia. Portanto, a interrupção seria depois deste filme e antes do lançamento de uma nova trilogia, deixando os fãs numa “quase hibernação”… Eu disse “quase”, pois é muito provável que tenhamos um spin-off em 2020 (que para nossa alegria seja Kenobi, com Ewan McGregor) e obviamente teremos os produtos paralelos da própria Disney (séries de TV, por exemplo) e muito material derivado. Mesmo assim, o pessoal da Lucasfilm não ficará apenas “acariciando a cria” e maratonando os filmes anteriores. Já existem 2 trilogias de filmes na fila de produção.
“Saudades da minha Star Wars”
Star Wars partiu de um grande filme e dali veio múltiplos produtos derivados, no cinema e fora dele. A Disney apenas tratou de acelerar a produção, aproveitar a nostalgia dos fãs pelo que é clássico, sem deixar de arriscar novidades, para trazê-los de volta, junto com as novas gerações. Se a empresa deixou os fãs felizes ou não é outra discussão (até demonstrando nenhuma preocupação em pesquisar ou agradar), mas comercialmente, convenhamos, tem dado certo.
Minha saga tem histórias
Onde película é o que há
As naves CGI que aqui explodem
Não explodem como lá.
Gonçalves Dias que me perdoe. Eu encaro isto como morar longe da sua cidade natal, mesmo gostando muito dela, para depois de alguns anos voltar como turista. E desfrutar novamente de cada lugar, cada lembrança da infância, aquele prato típico, aquele papo com os amigos – que vão lhe mostrar as coisas novas da terrinha. Você até pode pensar: “gostava mais daqui do jeito que estava antes”, mas no fim, desapegando um pouco, você aceita e curte as novidades.
Se Star Wars lhe “fisgou” pela jornada do herói (monomito), pela identificação e projeção com os personagens, pela tecnologia aplicada à sci-fi, ele continuará lhe fisgando pela nostalgia.
As pausas
Os fãs “pioneiros”, que acompanharam no cinema a trilogia clássica quando foi lançada, “hibernaram” 16 anos (Retorno de Jedi foi lançado em 1983 e Ameaça Fantasma em 1999). Não faço parte deste grupo “pioneiro” de fãs, já que Star Wars chegou para mim na TV Globo, dublado (com o título Guerra nas Estrelas) e me tornei fã revendo via DVD.
Já entre Vingança dos Sith (2005) e Despertar da Força (2015), a pausa foi de 10 anos. Além disso, os filmes da trilogia clássica (1977-1980-1983) e das prequelas (1999-2002-2005) tinham intervalos de três anos entre cada lançamento – era o viável dentro da estrutura disponível na Lucasfilm na época. Por isso, o ritmo da Disney com a nova Lucasfilm nos aparenta muito intenso (2 anos intercalando com spin-offs).
Bom ressaltar que os hiatos entre trilogias não foram planejados. Em 1983, George Lucas já tinha considerado sua obra como “terminada” (por mais que tivesse ideia para 6 filmes) e foi justamente o sucesso do Universo Expandido que o motivou a voltar com a saga em 1999. Quando veio a proposta da Disney em 2012, a saga estava em alta na TV (com Clone Wars) e Lucas não se mostrava muito empolgado com a ideia de uma continuação de Retorno de Jedi. A gigante conseguiu aposentar bem o criador da franquia e continuá-la com o nada surpreendente retorno financeiro.
Agora o conglomerado percebe que poderia ou até deveria fazer uma interrupção depois do Ep. IX… Eu arriscaria dizer que, diante do atual ritmo, seria de uns 3 anos (com um spin-off no meio).
Os fãs nas pausas
Difícil colocar fãs de Star Wars num mesmo balaio. Existem os novos, que começaram a conhecer a saga com esta trilogia, vão assistir às outras por curiosidade, mas sem apego nenhum ao passado; para estes tudo é Star Wars. Existem aqueles que são ávidos por novidades e continuam querendo mais, ainda que sejam parcialmente críticos aos novos filmes e sempre façam questão de afirmar que “apesar dos novos serem bons, os clássicos são insuperáveis”. Conheço bem esse papo – sou um destes. Mas existem os fãs “puristas” (desculpem, eu até procurei uma palavra mais suave para “chatos”), que já curtiram o primeiro (quando era só Star Wars) e a continuação (Império Contra-Ataca), mas já se “rebelaram” contra Retorno de Jedi (reclamam até hoje da “Estrela da Morte maior” e dos Ewoks… tão fofos). Para esta parcela, cada vez mais novidades são quase como ofensas a Star Wars “deles”, que deveriam ter parado na cópia exata dos 2 primeiros filmes – daí não há Kylo que agrade.
Confesso que saí meio decepcionado e revoltado do cinema após Ameaça Fantasma, talvez pelo excesso de expectativa que eu tinha (foi minha primeira vez na telona com Star Wars). Confesso que não curti muito os prequels numa primeira vista, sempre achando aquém dos clássicos.
Porém, os anos de pausa (2005-2015) serviram para rever com mais atenção, notar os detalhes, amadurecer a compreensão da trama política das prequelas (que é um aspecto mais explorado que nos clássicos) e o conflito interno do protagonista. No fim, continuo achando o Ep. I ruim (mas, necessário ao enredo, tirando os midclhorians), o Ep. II, razoável e o Ep. III, um filme muito bom para “redenção” do G. Lucas.
Daí estes 10 anos de pausa provocaram o sentimento de nostalgia. Algo que só sentimos quando aparece a saudade. E isto é bom. Quem não ficou pensando “bem que poderíamos ter mais filmes”? E isso explica a grande bilheteria de Despertar da Força.
O que fazer nas pausas?
Nós, fãs, ficamos acostumados pela Disney a ter Star Wars todo ano. Daí é fácil fazer evento, basta colar no calendário de lançamentos, reunir a galera na frente do cinema e pronto. Ano de lançamento também facilita pra fazer JediCon, o tema sempre será comentar o filme anterior e especular sobre o próximo filme. O tema é aproveitado e reaproveitado para todo “encontro de fãs”.
Isso facilitou a vida dos “Conselhos Jedi”, fazendo alguns “despertarem” em 2015 e outros serem criados. Sempre colando no calendário da Disney. No fã clube que atuo, Conselho Jedi Santa Catarina foi exatamente isto.
O desafio para os grupos de fãs é: o que fazer na próxima pausa (após o Ep. IX)? Esta é uma grande pergunta e eu gostaria de ver respostas nos comentários – pois não as tenho.
Quero sair da timeline intensa (até por que a ordem da narrativa x ordem de lançamento dos filmes já está quase mais louca que na Marvel, quase já precisa de infográfico pra explicar).
Por um lado, eu quero esta pausa, uma respirada, deixar “dar saudade”, rever a nova trilogia (e quem sabe, com outros olhos, mais favoráveis). Mesmo assim uma “interrupção parcial”, já que a Disney tem muita coisa na manga. Por outro lado, uma preocupação sobre como integrar os fãs quando não tem filme novo tão cedo pela frente. Esta espera de Maio/18 até Dezembro/19 já nos faz pensar nisto.
Uns três anos… será?
Por Charles A. Müller
Consultor em Marketing, bacharel em Comunicação Social (Propaganda) e MBA.
Vice-Presidente Voluntário do Conselho Jedi SC.
Perfil: https://bit.ly/2yssaM5
Artigo original:
sociedadejedi.com.br