Quando debatemos sobre uma obra que gostamos no mundo do entretenimento, sempre nos colocamos como consumidores, as vezes como um entusiastas e poucas vezes como pesquisadores daquele universo que estamos assistindo. Os leques são sempre infinitos para as conversas, mas a paixão que acende a nostalgia daquilo que vivemos aos testemunhar frente aos nossos olhos fascinados com a aventura é sempre o que nos motiva a gastar um tempo da nossa vida pra assistir novamente um retorno ao universo que tanto abrigou nossa imaginação dentro do mundinho de Star Wars.
Em épocas que obras saem num tempo recorde ao preço que se paga pelos efeitos especiais parecerem insuficientes para imersão na experiência daquela narratva que está sendo contada, ter a certeza que a Lucasfilm é a empresa que menos escorrega nesse contrato, é o que tanto tempo nos mantém por perto da viagem mágica de menos de uma hora nas obras recentes que tem chegado. Disney Gallery é um making of especial porque abrigou o mandoverse desde o início, abrigou o spin of “O Livro de Boba Fett” e chega agora com a terceira temporada de The Mandalorian. Aos entusiastas que gostam de ir um pouco além dos fãs casuais é um deleite.
Logo no início deste primeiro episódio, Favreau anuncia no set de filmagem a chegada de novos diretores ao time do programa de TV:
- Rachel Morrison – Diretora de fotografia (seu trabalho mais famoso é o primeiro Pantera Negra) que eventualmente dirigiu algumas obras interessantes para se conhecer. (aqui recomendamos Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi)
- Lee Isaac Chung – roteirista e diretor do prestigiado filme Minari: Em Busca da Felicidade em 2020 com ganhou 6 indicações ao Oscar vencendo de atriz coadjuvante para Youn Yuh-jung. O cara é fã de Star Wars e procurou Favreau para trabalhar em The Mandalorian.
- Peter Ramsey – roteirista e diretor que se tornou querido depois de seu vencedor em animação Homem-Aranha no aranhaverso ou a animação “A Origem dos Guardiões”.
Com o time montado, Favreau quem escreveu todos roteiros, nos trás as preocupações de como continuar a jornada de Din Djarin tendo como impossibilidade de se esquivar de uma parte da história que foi deixada como incerta desde a era das animações The Clone Wars e Star Wars Rebels: quem detinha o trono de um planeta que estava dado como infértil, morto e inexistente. Aqui o documentário ganha vida, pois até onde George Lucas havia criado, o planeta de Mandalore estava destruído. O desafio de trazê-lo para o live action vai além do lore, vai para as mãos de especialistas que conhecem esse mundo e queriam poder cria-lo de forma paupável. Os criadores de efeitos especiais começam a falar de sua escola em cinema. Tal qual diretores falam de filmes que serviram de referência para criar em Star Wars, os efeitistas trazem Phil Tippett da trilogia original como o guru das invenções e da estética de criaturas do universo de Mandalorian. Nos enriquece ver Rachel Morrison explicando a paleta de cores das minas de mandalore, ou Doug Chiang amplificar nossos olhares por Coruscant.
Entender a escola dos diretores é um exercício contínuo desde que George Lucas dirigia suas obras. As rimas visuais ajudam diretores a traduzir um mundo visual de forma que traga ao espectador, as mesmas sensações que os diretores sentiram quando mal imaginavam dirigir obras, mas sabiam seus sentimentos enquanto assistiam. Esse sentimento é o que move os debates entre criadores chegarem ao ponto de vermos o quanto Filoni revela que achava uma má idéia trazer uma nova criatura da raça do mestre Yoda, mas que Filoni tinha um feeling do quanto isso poderia se tornar um fenômeno e o resto da história já conhecemos. Carl Wheaters dirigindo Ahmed Best no capítulo que Grogu é salvo da ordem 66 é um presente ao fã que pode achar que revisitar ao momento traumático, ainda pode contar com um positivismo mesmo que inserido em meio a uma carga dramática tão marcante para o fã da saga. Pra nós do lado de cá da tela, é deveras belo quando Bryce Dallas Howard berra em meio ao set de filmagem que lembra de Ahmed de Jar Jar Binks quando ela circundava no set de produção. Os amantes de cinema se sentirão plenos ao verem que Emilly Swallow tinha filmes do Kurosawa para se basear em sua calma, ou que Peter Ramsey se baseou em “O Resgate do Soldado Ryan” na retomada da cidade de Nevarro, detalhes pequenos que o fã se distancia durante sua ansiedade na era pós pandêmica nos episódios semanais e que hoje, com a poeira baixada e com um belo making of destes, pode-se valorizar questões que deixamos passar batido pela expectativa das especulações.
Talvez a questão pertinente que mais se martelou neste episódio, seja o desafio de incluir carisma aos personagens que usam capacete, seja Din Djarin, seja Bo ou a armeira. Todos atores precisam dialogar com pequenos gestos que se tornem usuais e de fácil compreensão para o público. Os coreógrafos e dublês parecem sempre ter algo de novo a aprender e testar nas temporadas e todo manuseio de marionete é sempre um desafio maior para empresa especialista que afirma que o episódio de Bryce Dallas Howard entra para o marco de primeira obra com mais de dois droids manuais estarem no mesmo plano de câmera na história de Star Wars, detalhes que o fã usual pode ignorar, mas aos entusiastas, mais uma vez é uma marca batida, um dado que pode vir a se tornar linhas em algum livro sobre a produção.
O making of finaliza com a melhor explicação possível, quase desenhada pelo criador e roteirista de quais elementos estavam na história para entender o porque o caminho de Bo Katan e Din Djarin não tinha um combate como objetivo. E como mesmo o vilão da série, Mof Gideon, tinha como projeto de vida, uma consolidação de poderes que só mantinham no topo aqueles que ele conhece bem, mas imerso na insegurança da confiança. Algo que foi desmantelado por um grupo de nômades que encontrou na irmandade o seu lar, recuperou seu planeta, recuperou o seu orgulho como nação e fortalece os mandalorianos como mais uma raça de guerreiros no universo de Star Wars que não se entrega para as dificuldades latentes nas jornadas de herói.
Mais uma excelente direção de Bradford Baruh que tem se consolidado como produtor e diretor de making of de séries e filmes. Afinal, editar documentário exige o mesmo nível de destreza de qualquer cineasta: o poder de manter as pessoas prestando atenção em uma história porque ela é contada com o ritmo ideal para nos cativar.
Não perca a chance de aprender um pouco mais e quem sabe, deixar a posição de fã casual para entusiasta! Conhecer um pouco mais dos processos nos torna também um pouco mais tolerantes, não é mesmo?
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