Frequentemente vemos em grupos segmentados de Star Wars algumas discussões acaloradas quando assunto é inclusão.
Com a chegada dos novos filmes para a franquia, um planejamento estratégico conseguiu trazer público feminino para os cultuadores da saga. Porém, não só o público feminino chegou, mas também outras alas foram contempladas na representatividade: a ala racial e a ala LGBTQI+.
Quando se fala em representatividade, muita gente interpreta mal ou tem zero predisposição de entender esse universo. Portanto, este texto tem como objetivo acolher em nossa página todo público LGBTQI+ e seus personagens.
Como sabemos a realidade do país dividido e imerso em truculências quando se trata de preconceito, o aviso prévio é que se o texto não lhe agrada, procure outros textos que tenham a ver com sua visão de mundo. Por favor, não exercer intolerância no texto.
ACOLHIDA
Os públicos que muitas vezes estão ligados às minorias querem se sentir representados e boa parte de franquias consentem dessa importância porque sabem monitorar seu público consumidor. O primeiro passo destes atos é para que tais pessoas se sintam acolhidas e lhes deem uma sensação de pertencimento. O exemplo disso fica claro quando nos lembramos da era do filme “O Despertar da Força” lançado em 2015: uma foto de uma criança preta segurando uma action figure de Finn, postada por sua mãe, com frases sobre a criança se ver refletida no filme sensibilizou muitas pessoas, inclusive o ator John Boyega que fez questão de postar a imagem da criança (brasileira, por sinal) em seus perfis nas redes sociais.
Se formos positivos, compreenderemos fácil a ideia de que a inclusão cumpre bem a missão da sensação de pertencimento que as pessoas podem sentir. Se formos um pouco mais cruéis, podemos compreender também uma visão de mercado no fato de que a empresa de entretenimento monitora seu público e ao incluir os personagens de minorias, é manter diálogo com seu público como quem diz: “Sabemos que vocês consomem nossas obras, sintam-se em casa, temos aqui personagens como vocês, sejam mulheres, pretos(as) e da diversidade”.
INCOMPREENSÃO
Está no mítico pessoal das pessoas temerem o que elas não conhecem. Existem os que não compreendem por não viver, mas são solidários com as causas e existem sempre os mais arredios que, pela falta de empatia, agem de forma mais agressiva e debruçados na exclusão, uma prática que se tornou constante nos momentos atuais do país onde muitos simpatizantes de barbárie, se sentiram legitimados.
A resposta que os agressivos dão são sempre de forma a intimidar, na lógica de que se reprimir as minorias, elas deixam de existir, mas como sabemos, é impossível impedir o curso que o mundo nos leva na atualidade.
Ao não entenderem o papel de inclusão, logo criam narrativas baseadas em delírios. Quando alguma notícia sobre inclusão chega na saga, as conclusões são sempre baseadas num exagero incompreensível.
Basta noticiarem algum personagem da minoria incluído em alguma narrativa e as pessoas não preparadas usam histórias exageradas como foi o caso do anúncio de Jedi binários. Depois do anúncio, pudemos ler nos perfis sociais alguns delírios como “isso não tem nada a ver com Star Wars”, “eu quero brigas espaciais e não boiolagem”. Frases como essas fazem os preconceituosos imaginarem situações fora de contexto, como se os personagens parassem sua quest para a prática de coito.
Delírios como esses mostram o quanto o medo, sentimento letal na saga de Star Wars (nem precisamos chegar no preconceito numa galáxia multiracial ainda) fazem a imaginação ir além do que potencial de contadores de histórias podem chegar para incluir um personagem e suas particularidades contextualizadas, sem precisar entrar nos pormenores.
OS PERSONAGENS DENTRO DO UNIVERSO FANTÁSTICO DA SAGA
Uma situação memorável nessa franquia foi quando “O Despertar da Força” nos trouxe em uma de suas sequências uma conversa entre os personagens Poe Dameron e Finn acerca da jaqueta de Dameron. O ator Oscar Isaac, movido por um tic nervoso de mordidas de lábios, criou no público da diversidade a criação de um momento “shipper” entre os dois personagens. Os debates na época foram acalorados e com isso, até mesmo os atores Oscar Isaac e John Boyega entraram na onda de provocação aos preconceituosos, acendendo muitas vezes debates a cada vez que eram entrevistados. Como vimos no Episódio IX, os rumos da história foram outros. Mas, é claro que a Disney entendeu o recado e nos trouxe alguns personagens da diversidade que fazem a diferença no mundo de Star Wars. Sejam eles protagonistas ou meros figurantes, seguem alguns personagens que podem trazer a sensação de pertencimento dos fãs na saga.
• JUHANI – A primeira personagem lésbica lançada no Jogo “Knights of the Old Republic” em 2003, apresentava muitos elementos personalizáveis. E, devido a um erro inicial no jogo, os jogadores foram capazes de perseguir um romance lésbico com a personagem feminina, Juhani. Embora o romance nunca tenha sido canônico, ele deu esperança aos fãs queer!
• AMIGOS DE BOBA FETT – Nosso caçador de recompensas mais temido da galáxia não tinha nenhum preconceito. Em 2006, a autora Karen Traviss apresentou aos leitores Goran Beviin, um dos tenentes Mandalorianos mais confiáveis de Boba Fett… e um ‘mo total’. Ele até é casado com um guerreiro Mandaloriano: Medrit Vasur, o que os torna o primeiro casal abertamente gay da história de Star Wars .
• MOFF DELIAN MORS – Moff Mors foi apresentado no romance “Lords of the Sith”, de Paul S. Kemp. Ela é imperial (um cara “mau”, para o leigo), mas como qualquer boa personagem, há mais nela do que isso. Ela tinha uma esposa, Murra, que morreu em um acidente. Delian Mors é o primeiro personagem LGBTQ oficial no novo cânone.
• ESMELLE E SHIRENE – O romance Aftermath de Chuck Wendig nos apresentou os personagens restantes desta lista. Passado logo após os eventos de Retorno de Jedi, Aftermath nos dá nosso primeiro vislumbre do estado da galáxia antes do Episódio VII. Um dos principais heróis do romance, Norra Wexley, retorna ao seu planeta natal, Akiva, e se reúne com sua irmã, Esmelle, e com a esposa de sua irmã, Shirene. Esmelle é um pouco durona, mas ela foi deixada para criar o filho de Norra, Temmin, enquanto Norra voava para lutar com os rebeldes (e tentava encontrar seu marido). Shirene, por outro lado, é o ying perfeito para o yang de Esmelle, equilibrando o relacionamento com uma mão gentil e uma palavra gentil. Esperançosamente, esta não é a última vez que vemos essas mulheres.
• SINJIR RATH VELUS – Agora estamos conversando: um protagonista gay! Claro, Sinjur é um desertor imperial com um problema com a bebida, mas ele é interessante, não estereotipado, hilário e e sarcástico. Com mais dois livros planejados para a trilogia Aftermath (Life Debt e Empire’s End), podemos apenas esperar que Sinjur continue a desempenhar um papel importante nessas histórias.
• RAE SLOANE – Já havíamos feito um dossiê sobre a personagem aqui, e com certeza vale o complemento de que além de uma bela vilã, também uma mulher preta abertamente bissexual. Rae Sloane é uma humana que escalou as fileiras do Grande Império para se tornar Grande Almirante. Ela acabou sendo orientada por Armitage Hux (que foi interpretado por Domhnall Gleeson nos filmes mais recentes de Star Wars). Mesmo que Sloane não apareça nos filmes, ela tem uma presença poderosa nas obras literárias de Star Wars.
Ela foi apresentada pela primeira vez no romance de 2014 de John Jackson Miller, “A New Dawn”, e mais tarde foi apresentada na famosa trilogia Aftermath (Marcas da Guerra, de Chuck Wendig). Em um dos romances de Wendig, “Fim do Império”, Sloane diz a Wexley que ela nunca teve “um marido ou uma esposa morrendo em minhas mãos”, reconhecendo seus relacionamentos não heterossexuais.
• DOUTORA APHRA – A arqueóloga favorita dos fãs de Star Wars é homossexual oficialmente, e isso é muito bem abordado no universo expandido de Star Wars. A personagem surgiu na primeira fase de quadrinhos do Lorde Sombrio Darth Vader em 2015, mais precisamente na terceira edição da revista. Criada por Kieron Gillen e Salvador Larroca, a Doutora Aphra surge com a simpatia e o mau-caratismo necessários para dar um respiro para as histórias canônicas dos quadrinhos.
A personagem fez tanto sucesso que ganhou sua série própria nas HQ’s que atualmente está na sua segunda fase de publicação. Por se preocupar apenas com ganho próprio e passar todo mundo pra trás, Aphra se vê sempre sozinha até que uma inimiga imperial surge em seu caminho… Em entrevista ao site oficial starwars.com, Kieron Gillen aponta:
“Eu normalmente falo que a Aphra é lésbica. Eu a escrevi interessada romanticamente principalmente em mulheres. Acho que seria justo dizer. Star Wars também não tem a terminologia que temos. Uma das coisas que escrevemos dentro do primeiro arco foi que a homofobia como a conhecemos realmente não existe no universo Star Wars. Ninguém levanta a sobrancelha, ninguém parece surpreso quando isso acontece. É apenas algo que está lá, então a maneira que eles processam a sexualidade tem que ser diferente de qualquer maneira, e como eles escolhem se identificar também”.
• SANA STARROS – Apresentada na linha principal de quadrinhos Star Wars em 2015 (edição 6 para ser mais exato), a personagem surge como a “ex-esposa” do contrabandista Han Solo. É claro que esse casamento fez parte de um golpe que ambos deram no passado, mas a personagem cresceu muito nos quadrinhos, principalmente, agindo como braço direito da princesa Leia. Ela já se envolveu romanticamente com a Doutora Aphra no passado, o que aparentemente não deu muito certo tendo em vista que a Sana nunca confia na Aphra quando elas se encontram.
• AMILYN HOLDO – A Almirante Holdo apareceu pela primeira vez no filme “Star Wars: Os Últimos Jedi”, de 2017, porém foi no livro “Princesa de Alderaan”, focado na juventude da princesa Leia que nos é revelado que Holdo não é heterossexual. Em um diálogo onde Leia fala que está interessada em um cara, Holdo responde que gostar de machos humanos é muito “limitante”, e que, segundo ela, existe uma infinidade de pessoas e seres interessantes por quem ela se sentiria atraída.
• YRICA QUELL – Da série de romance literária do Esquadrão Alphabet, de Alexander Freed, Yrica Quell é uma desertora imperial com uma vida interior complexa que nos mostra o que significa deixar o Império somente depois de ele ter sido derrotado funcionalmente. A intersecção entre sua personalidade e sua história é o ponto crucial dos livros e permite que os leitores aprendam mais sobre o Império nos dias após a Batalha de Endor.
É uma personagem muito parecida com Iden Versio de Esquadrão Inferno por estar situada nos dois lados da moeda: fez parte do império e partiu para Nova República com uma diferença de Versio: Quell carrega a complexidade dos danos do passado em sua época do império não lhe causar remorso, mas sim, sua falta de empatia com relacionamentos interpessoais a tornaram uma personagem com potencial de seguir em frente, não importa o quão duro sua vida enfrentou e, principalmente, como pautou sua forma de viver a partir de sua experiência em um templo Sith. Tais enigmas morais marcam o novo cânone de Star Wars com experiências da dificuldade de criar laços após traumas como vemos na obra “Shadow Fall”, que sucede Alphabet Squadron.
• TAKA JAMOREESA – Apresentado no livro “Last Shoot”, de Danel Jose Older, Taka Jamoressa era um piloto que se uniu a Han e Lando em uma missão após a batalha de Endor. No livro, Taka é descrito como um personagem humano não binário, que está na missão a pedido da própria princesa Leia!
• OS PRIMEIROS JEDI TRANS NÃO BINÁRIOS – No dia da visibilidade Trans (31 de março), Star Wars anunciou que apresentaria Terec e Ceret em sua edição de junho de “Star Wars: The High Republic”. Os Jedi não binários são gêmeos vinculados que têm uma consciência conectada, e eles fizeram sua primeira aparição na edição dois de “The High Republic”. A série se passa cerca de 200 anos antes de “A Ameaça Fantasma”, em uma época em que os Jedi estão “no auge”. Foi só neste ano que o Instagram oficial de Star Wars anunciou que a dupla era trans e não binária. O relato acrescentou: “Apoiamos vidas trans e somos apaixonados e comprometidos em ampliar nossa representação em uma galáxia muito distante”, confirmando as palavras de J.J. Abrams de 2015.
FORA DO UNIVERSO DOS PERSONAGENS
Quando saímos do lore dos personagens, temos alguns momentos de inclusão e preocupação com o público queer. Na época de lançamento de “O Despertar da Força”, movido pelas declarações contundentes de parte do fandom, o diretor J.J. Abrams foi questionado se ele vê espaço para personagens gays em uma galáxia muito, muito distante. O diretor respondeu:
“Claro! Quando falo sobre inclusão, não estou excluindo personagens gays. É uma questão de inclusão. Então, é claro .”
E, posteriormente, em sua incursão na direção do nono filme, pôde incluir uma personagem já conhecida nos filmes anteriores, demonstrando seu afeto em comemoração da queda da Primeira Ordem no final de “A Ascensão Skywalker”, um plano de câmera aberto em que em meio a tantas pessoas felizes, a demonstração de afeto foi registrada e causou desconforto numa parcela de fãs.
• LANDO CALRISSIAN, estrelado por Donald Glover – Quando o filme “SOLO – Uma História Star Wars” estreou, muitas perguntas foram feitas ao ator por conta da preocupação do personagem Lando quando perde sua parceira L3-37 (interpretado por Phoebe Waller-Bridge) que respondia com ironias: “Como você pode não ser pansexual no espaço?” argumentou. O ator e cantor quando questionado sobre a sexualidade de Calrissian. “Há tantas coisas para fazer sexo. Eu não achei isso estranho. Sim, ele está falando sobre todo mundo. Quer dizer, sim, tanto faz. Simplesmente não parecia tão estranho para mim porque eu sinto que se você estiver no espaço é como se a porta estivesse aberta! É tipo, não, apenas garotos ou garotas. Não, é qualquer coisa. Essa coisa é literalmente uma bolha. Você é um homem ou uma mulher? Tipo, quem se importa? Divirta-se aqui”.
Embora seu posicionamento nunca foi oficialmente canonizado, os quadrinhos de Star Wars que foram lançados no mês de junho com diversas capas em homenagem ao mês da diversidade, colocou Lando e sua Milenium Falcon com o arco-íris no logotipo.
• STEVE SAMSWEET, O MAIOR COLECIONADOR DE STAR WARS – A maior concentração de coleção da saga no mundo está no Rancho Obi-Wan? É a maior coleção particular do mundo de mercadorias e recordações de Star Wars, enchendo um armazém em Sonoma County, Califórnia, com mais de 300.000 itens. O proprietário desta coleção impressionante é ninguém menos que o ex-diretor de Gerenciamento de Conteúdo e Chefe de Relações com os Fãs da Lucasfilm, Steve Sansweet. Ele foi um importante porta-voz da Lucasfilm por quase 15 anos e continua a atuar como consultor de fãs para a empresa. Em 2013, Sansweet foi convidado a participar de um vídeo para o blog Gay Family Values, que apresentava o mega fã de Star Wars e seu marido há mais de 37 anos, Bob. Steve até escreveu sobre a experiência no blog oficial StarWars.com e na época das prequels comandava o Hype Drive, onde o relacionamento com o fã passava pela curadoria de Sansweet.
A empresa de entretenimento focada em diversões familiares já entendeu pelo mercado que essa inclusão é manter todo o público perto. Resta apenas aos que pararam no tempo compreender que o mundo segue pra frente, retroceder a sentimentos preconceituosos é pior do que parar no tempo.
Mas, como sabemos, a frase do momento em voga é que os foguetes não tem ré. Nosso ponto de vista para o cinema é assim. É daqui pra frente e que o passado nos sirva como exemplo de tudo que é ruim que deixamos pelo caminho.
**Esse texto contou com a colaboração do fã, influenciador e produtor de conteúdo Northon Domingues na lembrança dos personagens.
Por: Prof.º Me. Vebis Jr
Mestre em Cinema
Especialista em Comunicação
Graduado em Audiovisual e Multimídia”O Cinema é um campo de batalha” – Samuel Fuller
Revisado por: Alexandre Agassi
Jornalista e produtor de conteúdo para redes sociais
Apaixonado pela sétima arte
Artigo original:
sociedadejedi.com.br