Pergunte a um fã de Star Wars o que eles pensam sobre “A Ameaça Fantasma”.
Você receberá uma resposta bem específica, que na maioria das vezes é negativa.
Na Star Wars Celebration, em Chicago, no mês passado, os jornalistas do site
io9 conversaram com os fãs sobre suas memórias e sentimentos na véspera do 20º
aniversário do filme. E o sentimento foi muito mais positivo do que o esperado
por todos os tipos de motivos.
Nestes 20 anos desde o seu lançamento, quase nenhum filme de Star Wars
foi pensado ou debatido mais. Por um lado, nos deu Darth Maul, Mastre Windu e
Padmé Amidala. Por outro lado, também nos deu Jar Jar Binks, política (que
tanta gente pegou birra) e midi-chlorians. O filme introduziu algumas de nossas
coisas favoritas (e menos favoritas) no cânone de Star Wars – e todo fã tem uma
história sobre seu relacionamento com ele. Em Tampa, na Flórida, foi um assunto
de família. Como lembra Jasmin Seals, sua família assistia ao primeiro episódio
num volume alto demais e recebeu a visita da polícia para trazer a paz aos
vizinhos.
“Eu me lembro de assistir “A Ameaça Fantasma” na casa com meu pai. Nós
estávamos na sequência de corrida de pods e ela [a TV] estava num volume tão
alto que os vizinhos se aproximaram e quase chamaram a polícia”, conta. “Eles
pensaram que estava rolando o maior ‘quebra pau’ naquela casa. E eu pensei que
era legal quando eu era mais jovem. Então, à medida que envelhecia, eu
realmente apreciava os aspectos que começaram a ter valor, como eram os
políticos mostrados no filme. Mesmo que não seja o meu filme favorito de Star
Wars, acho que foi muito bom introduzir tantos personagens novos e criar uma
nova trilogia. É muito importante para o fandom. Nem todas as lembranças do
filme são tão dramáticas, é claro. Alguns são muito relacionáveis”.
“Eu tenho uma conexão pessoal com esse filme”, disse Natassia
Strayer, que estava fazendo cosplay de Rey na convenção. “Quando eu era mais
jovem, meu personagem favorito era o jovem Anakin, e eu costumava ter em casa
os googles (óculos de esqui que pareciam com os óculos de proteção). Então,
quando eu tinha uns quatro ou cinco anos, eu apenas usava e corria pelo meu
porão como se eu estivesse pilotando um pod. Eu sei que muitas pessoas não
gostam tanto da [Ameaça Fantasma], mas para mim, apenas por causa dessa
nostalgia, eu ainda gosto disso porque penso naquela infância.”
Nick Evans, de Columbus, Ohio, teve uma história semelhante. Ele tinha
apenas quatro anos quando o filme foi lançado. “Meus pais tinham me metido em
cultura de Star Wars antes disso, mas eu simplesmente saí impressionado com o
filme. Eu me lembro de ir pra sala de cinema. Foi um ponto memorável para mim”,
diz ele. “Teve muito ódio por um tempo cultuado contra o filme.
Definitivamente, houve alguns vídeos do YouTube que levaram a isso, mas depois
percebi que há muitas coisas boas no filme”. E continua: “Talvez a
execução contra o filme não esteja lá durante o filme todo. Mas as ideias por
trás deles são super sólidas. Quer dizer, quem não ama “Duel of the Fates” com
Darth Maul duelando com Qui-Gon e Obi-Wan? Essa é a melhor batalha de sabres de
luz em Star Wars”.
Tanto Evans quanto Strayer viram o filme quando eram jovens, então a
idade pode ser o principal fator na memória de um fã. “Eu sou meio que
novo fã de Star Wars e comecei [assistindo] A Ameaça Fantasma primeiro”, comenta
Lindsey Oates, também de Columbus. “Então, para mim, sou parecida com os
fãs que cresceram com a ameaça fantasma, pois é uma das minhas favoritas,
especialmente porque tem muitas miniaturas e cores divertidas e coisas do
tipo.”
Até os fãs da franquia que não necessariamente amam o filme escolhem
encontrar pontos positivos nele. “Quando foi lançado, fiquei inicialmente
muito empolgado e isso foi dosado porque a quantidade de informações não nos
sufocou”, explica Guido Strotheide. “Eu meio que me concentro em
quanto ao material que saiu sobre os Jedi, pois nós não tínhamos antes… Eu
não sou super fã das prequels. Eu cresci com a trilogia original. Mas eu
definitivamente sentiria falta se não tivéssemos todas as coisas de Jedi aqui”.
Isso não quer dizer que o fandom é totalmente apaixonado pelo filme, é claro.
“Eu me lembro inicialmente de que eu e todos os meus amigos gostamos nas
duas primeiras semanas. Mas depois começou a afundar nas recepções de alguns
até que um dos nossos amigos nos disse: ‘Espere, segura a onda’. Talvez isso não
tenha sido o que esperávamos”, conta Jay Kramer. “Acho que agrada mais às
crianças pequenas, especialmente agora que conheço pessoas de 20 anos que
cresceram com esses filmes. Você gosta deles por serem filmes infantis”. Por
outro lado, o nova iorquino Matt Wade foi rápido em apontar que sem A Ameaça
Fantasma, Star Wars não seria o que é hoje.“Muita gente bateu pra valer no
filme porque a reclamação quanto ao ritmo da história era muito lenta, tinha
uma luta incrível, o melhor vilão morre’”, opina Wade, descrevendo o enredo.
“Tanto faz. Eu digo que você tem que construir a história. Você não pode
simplesmente entrar sem uma história de fundo. Então eu apreciei o filme desde
o primeiro dia”. O lançamento de Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma trouxe
infinitas possibilidades. Isso trouxe a promessa de algo que os fãs nunca
pensaram que veriam novamente: novos filmes de Star Wars. Trouxe uma chance
para respostas a perguntas que nunca pensamos que seriam respondidas. E, é
claro, trouxe algo que nenhum de nós poderia esperar: um público muito tóxico
em direção a Star Wars. Ainda assim, é bom saber que alguns fãs ainda são
respeitados por esse filme e aquele momento. Um momento que chegou há 20 anos
nesse mês.
Trouxemos essa conversa aqui pra Sociedade Jedi e vimos como o pessoal
se relaciona com este filme. Eu particularmente admiro como um filme de ação
conseguiu se desdobrar em quatro sequências finais em paralelo sem deixar a
peteca cair mesmo no segmento de Binks (nosso Buster Keaton versão alienígena),
que posteriormente foi a força motriz pra situações semelhantes em alguns
episódios de The Clone Wars do Filoni. Paulo também gosta de lembrar da conexão
desses quatro plots.
Para Nando, o filme tem um lugar especial no coração por conta de um
final bem escrito e épico mesmo com todas as recusas que o filme recebeu. Eduardo
fala com nostalgia que suas maratonas no canal aberto de Star Wars foram lançadas
pela paixão a primeira vista causada pelo primeiro episódio. “Ri com Binks
tendo um droide preso a perna, mas somente se irrita como o personagem nas
repetições causadas pela animação”.
Slo foi ver depois de crescer e também lembra que não se irritou com
Binks e o jovem Anakin. Ainda gosta da inspiração de um personagem estabanado
conseguir ter pontos a seu favor numa batalha. E lembra dos valores do CGI na
tecnologia. Sergio disse que na época não gostava do filme, mas tal qual aquele
prato de comida que não gostamos e com o tempo aprendemos a saborear e
apreciar, hoje faz parte de sua vida “com gosto”.
Fer Skywalker se sente grato ao filme por conta da expansão da saga e
entende o papel do filme como ferramenta de novas narrativas. Matheus lembra
que sua mãe o colocou pra assistir as prequels e desde então o Episódio III é o
filme que mais vezes reassiste e cultua sua paixão por Sith e vilões.
Na ala cinéfila do site, Will julga o filme confuso, desequilibrado e
por vezes infantil e piegas, mas que seu início soa cativante, espetacular na
tocada e tecnicamente brilhante. Alexandre Agassi sabe que o filme está longe
de ser perfeito, porém, é inegável que ele deu uma nova roupagem para saga, sem
perder sua essência: “Cenas de luta de tirar o fôlego, uma trama política
belíssima e claro: Duel of the Fates”. Allan ressalta que o novo olhar para o
passado de Vader mesmo em meio a algumas imperfeições. Diz ser marcado na
memória pela estilização de lutas de sabre e obviamente a trilha sonora também
mexeu com ele.
Alguns outros membros não responderam por conta de seus tempos escassos,
mas é interessante ponderar sobre os 20 anos deste filme. Usando de um panorama
internacional e numa esfera mais intimista ligado aos membros da Sociedade Jedi
me dá certeza que com tantos filmes de ação superestimados na história do
cinema desde 99 até 2019, vemos o quanto “A Ameaça Fantasma” cresceu
com o tempo. Tornou-se compreendido se lembrarmos
de que seu criador voltou e ainda estava enferrujado, mas jamais perderia seu
encanto em criar novas fábulas e mais capacidade de fazer novas gerações
sonharem.
Defensores de prequels, uni-vos! A justiça tardou, mas não falhou quando
se diz respeito a cultuar a saga com filmes que tenham histórias marcantes, que
toquem as pessoas.
Artigo original:
sociedadejedi.com.br