Dentro do ramo cinematográfico existem parcerias que marcam bons projetos. Um dos mais históricos que temos é entre Robert De Niro e Martin Scorsese, que foi complementada mais tarde por Leonardo DiCaprio. Já no mundo mais pop culture, a parceria que mais lembramos é de Samuel L. Jackson com Quentin Tarantino.
Mas é interessante notar quantos outros diretores gostavam de escolher o seu ator/atriz fetiche que quase se tornava um alter ego. James Cameron por muito tempo usou Bill Paxton, os Irmãos Coen chamavam Frances McDormand, Tim Burton jamais deixou de referenciar o expressionismo alemão ou a explosão psicodélica sem chamar Johnny Depp. Os filmes de Wes Anderson que parece um live-action do desenho do Snoopy sempre terão Bill Murray no corpo de atores. O mestre do suspense Alfred Hitchcock também tinha em Cary Grant aquele ator presente na maior parte dos filmes. E se lembrarmos de filmes mais pertencentes à geração MTV como os de Edgar Wright, Simon Pegg e Nick Frost serão sempre a dupla querida. Até mesmo no ano de 1978 quando nosso querido Star Wars não ganhou por filme, o filme do ano que era Manhattan de Woody Allen, tinha em seu elenco a atriz que ele usou por muito tempo, Diane Keaton.
Por fim, chegamos na parceria Robert Rodriguez e Danny Trejo. Nosso ídolo mexicano é um daqueles que já foi esfaqueado, degolado, esmagado, torturado inúmeras vezes, talvez seja um dos atores que mais morreu em tela “na vida”, ironicamente. Trejo foi um daqueles figurantes de luxo para muitos cineastas, chegando ao posto de importantes como Michael Mann (em Fogo contra Fogo), Rob Cohen (Triplo X) e até em séries como Breaking Bad ou Sons Of Anarchy.
O ator está em um ponto onde todos já o viram fazendo uma ponta ou atuando, em especial, filmes de gênero (horror, Sci-Fi e fantasia) são sua marca de participação e com o passar do tempo, principalmente seus papéis nos filmes de Rodriguez, tem variado desde um pai de família ou babá da família de Pequenos Espiões, até mesmo um herói dos imigrantes no seu primeiro filme como protagonista, a inacabada trilogia Machete.
Mas, quem olha o ator em seus plenos 77 anos não imagina que sua vida poderia não ter sobrevivido às prisões que o transformaram. “É um milagre, pois não poderia viver além dos anos de 1960”, diz ele. Trejo cresceu na Califórnia com uma adolescência imersa no uso de drogas pesadas e várias passagens pelas prisões locais. Se tornou famoso no meio carcerário por ter sido campeão de boxe durante o campeonato interno na prisão estadual de San Quentin, a mais antiga da cidade. Além de também ter sido inquilino de mais duas prisões muito conhecidas: Soledad e Folsom (Johnny Cash mandou um abraço). Viu inúmeros amigos morrerem com apunhaladas pelas costas enquanto os outros riam. Quando decidiu mudar de vida, seu primeiro passo foi cortar as drogas e ensinar novatos a abandonar os vícios. Foi seu trabalho em um set de filme em 1980 que viu sentido no que seus amigos de prisão lhe diziam: de que deveria ser uma estrela de cinema, interpretando vilões. Mas Trejo queria ser apenas um bom ator, como relata em seu documentário Inmate #1: The Rise of Danny Trejo (2019), de Brett Harvey.
Sua parceria com Robert Rodriguez começou em A Balada do Pistoleiro (1995) em que o vendedor de facas Navajas é confundido com um Mariachi perseguido. De lá para cá atuou em diversos filmes, como Era uma vez no México, Um Drink no Inferno e a franquia Pequenos Espiões.
A presença de Danny Trejo já passou perto da nossa franquia no filme Fanboys (2009). Aos desavisados, a história do filme é sobre um grupo de amigos que que querem levar o amigo que sofre de câncer para assistir uma sessão de A Ameaça Fantasma, pois não sabe se sobreviverá até a data da estreia. Trejo interpreta o Chefe, um místico curandeiro que faz a trupe de amigos experimentar uma “viagem relaxante”em meio a jornada.
Não importa o tipo de filme que o ator entra, sempre dá um toque diferente ao elenco. E uma série como O Livro de Boba Fett está situado no clima árido de Tatooine, sendo ela um braço da produção de Rodriguez abaixo de Favreau (que já emergiu em doideiras como Cowboys versus Aliens) e de Dave Filoni, que usa um chapéu de cowboy e vive homenageando filmes de faroeste em suas animações. Gary Whitta, roteirista de Rogue One e das animações de Star Wars Rebels já havia citado que trazer Danny Trejo para a franquia poderia enriquecer muito as histórias que se contam nos spin-off ou séries da saga. Isso só indica o quanto esse trio que se juntou para essa série (Favreau – Filoni – Rodriguez) não apenas vai dar suporte ao personagem, mas também pode enriquecer tanto o personagem que por anos e anos foi chamado de subestimado por fãs rabugentos da saga (não que não tivessem razão a julgar apenas pelos filmes). Porém, se um episódio ou dois da segunda temporada de The Mandalorian já nos levantou a moral do potencial, nas mãos de um dos melhores diretores áridos da atualidade, podemos ter muita sorte; e o melhor do que ter sorte: poderemos ter Danny Trejo!
Por: Prof.º Me. Vebis Jr
Mestre em Cinema
Especialista em Comunicação
Graduado em Audiovisual e Multimídia
Artigo original:
sociedadejedi.com.br