A popularização de serviços como Netflix e a própria venda de filmes no iTunes e Google Play mudou a forma como as pessoas se relacionam com o cinema. Se antes o público corria para a sala mais próxima, hoje elas preferem esperar o filme chegar à sua plataforma preferida para assistir ao longa no conforto de casa. E o que pode parecer uma constatação bastante óbvia do modo como consumimos o entretenimento hoje em dia é também um sinal de alerta que estúdios e distribuidores estão encarando com preocupação.
Não por acaso, essa mudança no perfil vem fazendo com que Hollywood repense o modo como suas produções são distribuídas. Atualmente, há um hiato de 90 dias que separa a estreia nas telonas do lançamento em home video. Esse é um tempo que muitas companhias já começam a pensar em rever para se adequar aos novos tempos, principalmente em uma era em que o consumidor está acostumado ao imediatismo de tudo. E, para atender a essa necessidade, uma das soluções apresentadas para manter a indústria cinematográfica girando é exatamente reduzir esse tempo de espera, o que incluiria disponibilizar esses filmes digitalmente em um prazo bem menor.
Nada disso ainda é certo. Como aponta o site Fox Business, estúdios e cinemas ainda estão discutindo sobre o assunto, uma vez que há muita coisa em jogo nessa decisão. De um lado, as empresas veem nessa mudança uma forma de arrecadar mais dinheiro e em menos tempo. Por outro, os donos de cinemas veem a alteração com maus olhos, pois seriam a parte mais prejudicada, pois muita gente iria deixar de frequentar suas salas para ficar no conforto de casa. Contudo, o simples fato de essas conversas estarem acontecendo já mostra um avanço nesse sentido.
Caso essas negociações avancem, o principal questionamento vai ficar em torno de quando as estreias seriam disponibilizadas em serviços de vídeo sob demanda. É muito pouco provável que tenhamos algo simultâneo, pois seria a morte certa para os cinemas, mas algumas especulações apontam que o interesse de Hollywood é fazer com que a espera não se estenda por mais do que algumas semanas. Assim, as pessoas teriam de esperar apenas alguns poucos dias para ver o mesmo filme em seu sofá ao invés de uma poltrona com pessoas que não ficam quietas ao seu redor.
Alguns estúdios sugerem que o lançamento digital deveria acontecer 10 dias após a chegada aos cinemas, enquanto outros sugeres 17 dias. Outras propostas são mais maleáveis e variam de 30 a 45 dias. Em todos os casos, a espera é menor do que os três meses que existe atualmente. Além disso, há também a possibilidade de colocar variáveis nessa equação e fazer com que estreias que tenham tido uma bilheteria mediana cheguem mais rápido a serviços de streaming exatamente para alavancar a arrecadação.
Ainda de acordo com a Fox Business, os estúdios poderiam oferecer até mesmo uma parcela de 10% a 20% da receita adquirida no formato digital para os cinemas para compensar a perda de público em um período de um mês.
Protegendo o mercado
É claro que os estúdios querem acelerar esse lançamento. A principal preocupação dessas empresas é manter o interesse do público que não quer ir ao cinema. Se a pessoa não está disposta a procurar a sala mais próxima, é muito provável que ela perca o interesse naquele filme nesse prazo de 90 dias — ou, pior, ela pode acabar caindo na pirataria.
Prova disso é que a venda de DVDs e Blu-rays segue caindo. Em 2016, a queda foi de 7% em relação ao ano anterior — o qual já tinha marcado uma queda de 6% em relação a 2015. E até mesmo a ida aos cinemas é preocupante. Mundialmente, a arrecadação nas salas cresceu apenas 1% mesmo com tantos blockbusters estreando ao longo de todo o ano. Por isso, Hollywood vê essa mudança como vital para manter suas engrenagens girando.
Por outro lado, é preciso pensar também em maneiras de proteger os cinemas. Como dito, apostar em uma simultaneidade seria matar esse tipo de negócio, já que ninguém iria sair de casa sabendo que teria aquela mesma experiência sem sair do sofá. É por isso que tentativas de integrar cinema e Netflix foram tão rechaçadas no passado.
Isso faz com que estratégias de diferenciação sejam necessárias para garantir a sobrevivência dessas salas. Além do lançamento antecipado, o valor pode ser outro ponto estratégico. Nos Estados Unidos, um ingresso custa, em média, entre US$ 10 e US$ 15 nas salas convencionais — ou seja, algo entre R$ 31 e R$ 46 na cotação atual. Já serviços como iTunes e o Google Play oferecem um lançamento entre US$ 30 e US$ 50 (R$ 93 e R$ 156, respectivamente). Dessa forma, o usuário poderia ver aquele filme antes e mais barato se for até um cinema, o que já é um atrativo e tanto.
Outro ponto é a qualidade. Ainda que as TVs e home theaters estejam cada vez mais recriando a experiência cinematográfica dentro de casa, não há como igualar o que uma sala IMAX faz, por exemplo. Por isso, o ideal seria investir mais nessas tecnologias que somente uma grande sala poderia oferecer — e não apenas enganar o consumidor com um 3D mal feito e mais caro.
Via: Fox Business