Saiu na revista DailyWire uma matéria que chamou
atenção desde o título.
Uma certa fatia de fãs de “Star Wars” está numa expectativa de
que o próximo filme numérico da franquia salve a saga de uma morte induzida
pela “SJW” (Social Justice Warrior, este pensamento patético que
alguns propagam) e que essa turma deva realmente esquecer a ótica depreciativa
que chamam de filme feminista abissal que estragou a saga.
Aqui abrimos uma nota ao observar o quanto os filmes de protagonismos
femininos podem caminhar numa via tranquila como foi o caso de Mad Max –
Estrada da Fúria, de George Miller, ou no caso do escorrego de Caça-Fantasmas
com protagonismos femininos. Os diretores estão tendo como foco, o mercado que
dialoga com seu público pagante e depois do sétimo episódio, o público feminino
que já era presente por conta de Leia ou Padmé, agora aumentou com
“força”.
“A história que estamos contando, a história que começamos a
conceber quando fizemos “O Despertar da Força” foi autorizada a
continuar com novas mentes”, disse Abrams ao Entertainment Tonight Canada.
Na época, de JJ Abrams iria para Rian Johnson e terminaria com Colin Trevorrow.
Abrams acrescentou que “A Ascensão Skywalker” será um pouco
diferente das versões anteriores, porque os personagens (Rey, Finn, Poe)
estarão em uma jornada como um grupo – personagens ainda pouco conhecidos sobre
o assunto apesar de quase seis horas de duração da história. Nos filmes
anteriores lembremos que o grupo foi separado em suas jornadas.
“Mas eu vou dizer que a diversão deste filme é que esses
personagens estão todos juntos nesta aventura como um grupo”, disse
Abrams. “Essa é a coisa que mais me deixou animado para ver a dinâmica
entre esses personagens que esses incríveis atores interpretam neste
desesperado efeito montanha russa. Isso para mim foi o mais divertido: o fato
de ter o grupo junto.”
As declarações do diretor ecoam como ao que ele já havia comentado à
Vanity Fair. “Trabalhando neste projeto, eu me vi abordando isso de forma
um pouco diferente. O que significa que, aos sete anos passados, eu me senti
comprometido com ‘Star Wars’ de uma maneira que era interessante – eu estava
fazendo o que, com o melhor da minha capacidade, senti como que um filme de Star
Wars deve ser”, disse ele. “Parecia um pouco mais renegado; parecia
um pouco mais como, você sabe, eu vou fazer o que parece certo, porque
simplesmente as coisas fluem sem estarem presas em alguma obrigação”.
Aos que não sabem, Rian Johnson disse lá trás que o que JJ lhe entregou
para continuar o sétimo filme foi uma tela em branco, uma página de roteiro
livre, mais nenhum detalhe fora desse, ou seja, a liberdade de criar como bem
entendesse. Rian responde: “Ele foi muito gentil em apenas dar um passo
atrás e nos dar uma lousa em branco para trabalhar. O ponto de partida foi o
roteiro de “O Despertar da Força” que é um ponto de partida bastante
grande, expansivo e maravilhoso. Dessa forma, estamos desenhando diretamente de
seu trabalho. Mas a partir desse ponto em diante foi uma tela em branco, que
seguimos adiante”, disse Johnson.
JJ tem sido constantemente questionado se concorda com o caminho que o
oitavo filme tomou e nessas perguntas sempre surge a comparação de Rey com Mary
Sue, ou dúvidas que parecem jogar o filme numa vala muito rasteira. Porém, de
bate pronto, JJ sempre responde que sente nessas perguntas capciosas a
agravante de como “os homens se sentem ameaçados pelas mulheres”.
“Não estamos pedindo para tirar o ponto de vista masculino ou a
arte masculina ou a contribuição masculina”, disse ele à IndieWire.
“Estamos simplesmente dizendo: ‘O que é justo?’ Eu posso ver porque as
pessoas podem se assustar com isso, mas as pessoas que estão surtando são as
pessoas que estão acostumadas com esse privilégio, e isso não é opressão, isso
é sobre justiça”.
Abro aqui um comparativo interessante com uma saga paralela atual. Vou
para os filmes da Marvel. Há uns textos atrás, falamos de montagem e isso ficou
mais dissecado ainda no podcast do Vozes da Força em que comento qual é o foco
da montagem do cinema: a emoção.
Os irmãos Russo, quando fizeram os dois últimos Vingadores, tem no
trunfo de seu trabalho a administração do tempo de tela de tantos atores
hollywoodianos e tantos personagens. Ainda que de maneira mais natural em
“Guerra Infinita” e um pouco mais exagerada em “Ultimato”,
ambas funcionam muito porque causam emoção no público. E público é uma palavra
sem gênero. Apenas causa efeito e isso é sentido e notado durante a projeção do
filme. Concluindo, funcionou com naturalidade ou não.
“Star Wars é uma grande galáxia, e você pode encontrar quase tudo o
que quiser em Star Wars. Se você é alguém que se sente ameaçado por mulheres e
precisa atacá-las, você provavelmente encontrará um inimigo em Star Wars”,
Abrams continuou em uma das entrevistas antigas que deu.
“Você provavelmente pode olhar para o primeiro filme que George [Lucas] fez [Star Wars: Uma Nova Esperança ] e dizer que Leia era sincera demais, ou ela era uma pessoa muito difícil. Qualquer um que queira encontrar um problema com qualquer coisa pode encontrar o problema. A internet parece ser feita para isso”, disse ele. E nós aqui na página temos plena certeza disso, já que compartilhamos nossas experiências com outras páginas da “União Star Wars” e sempre encontramos focos menores e ruidosos de ódio contra os criadores de conteúdos pelo simples fato de que estes ainda dialogam com os filmes, mesmo quando estes tenham dividido tanto as opiniões.
Foi durante uma palestra que foi exibida no VII Seminário Nacional de Cinema em Perspectiva da UNESPAR em 2018 e também na CCXP 2018, onde procurei filmes referenciais que Rian Johnson se apoiou para realizar “Os Últimos Jedi”, que consegui notar que os fãs de cinema em si sabem lidar melhor com as mudanças e rupturas que o filme trouxe. Já os fãs de Star Wars que nem sempre são fãs de cinema, tem a difícil tarefa de assimilar as mudanças propostas pelo filme.
Uma questão muito importante que parece que todos os fãs dentro do nicho de Star Wars sofrem é que eles esquecem que as outras trilogias (Clássica e Prequel) foram escritas pelo mesmo criador, George Lucas, e que sempre estavam escritas inteiras e depois adaptadas. Obviamente reside aí uma linearidade narrativa que esta trilogia Sequel (que alguns pejorativamente se forçam a esquecer da Lucasfilm e a apelidam de trilogia Disney que só distribui) não vai possuir pelo simples fato que os filmes são pensados e escritos assim que o anterior sai de cartaz. Embora essa franquia seja um símbolo para o cinema blockbuster nas mãos de Lucas, ela ainda poderia ser ao mesmo tempo considerada como Cinema Independente, pois não ficava a mercê dos desejos de uma produção executiva e sim ao criador George Lucas.
Hoje, ela faz parte da Lucasfilm, mas atrelado à expectativa da produção executiva de Kathleen Kennedy (a vilã dos nerds tarja preta), que prefere lançar os filmes numerais com um tempo de espera para se contabilizar qual caminho deve se tomar para história. Somente o fato de uma trilogia se escrever com pausas já causa estranhamento no tom e a torne diferente das outras duas trilogias, mas infelizmente nem sempre o fã comum detecta que isso interfere no resultado final.
Mas sabemos o quanto o papel nosso é instigar ao leitor o acúmulo da bagagem atual para poder lidar com a análise de filmes. Afinal, o mercado de Hollywood se debruçou ao protagonismo feminino e nós aqui abrimos mão de tudo, menos de sermos pessoas do nosso tempo.
Artigo original:
sociedadejedi.com.br