Fazer e falar: A importância de Rose

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Ao estabelecer o envolvimento de Rose no enredo, Rian Johnson inverte um momento chave de O Despertar da Força: Quando Poe e Finn se conhecem, são indivíduos de lados opostos que se juntam para propósitos práticos, por sobrevivência. Temos a cena em que Finn diz que está libertando Poe por que “é a coisa certa a se fazer.” Mas Poe cinicamente vê através disso e reconhece sua verdadeira necessidade imediatamente.

Rose, por outro lado, entra na luta por que realmente é a coisa certa a se fazer. Seu conhecimento garante a ela a oportunidade, mais do que a sorte que ela diz que teve. Se ela e Finn estão realmente preparados para a missão? Isso não está em questão aqui, mas sim o fato de que ela entrou na jogada não por um potencial, dever ou coincidência, mas por seus méritos. Há uma inicial admiração ao que Finn se tornou na Resistência, pois ela é uma idealista. Isso é um bom exemplo da visão de Johnson para seu filme, onde superficialmente deixa de dar atenção à guerra dinástica para mostrar algo mais essencial.

Continuando nos caminhos de subversão que Rian Johnson traz aos seus personagens, Rose nos traz o inverso de uma das tradições da franquia — o desdém pelas classes baixas e a admiração pela opulência das classes altas. Isso é o centro das aspirações de Luke em Uma Nova Esperança, ao chamar seu planeta natal de “o planeta que é mais longe” daquele centro do universo que serve como local chave na trilogia prequel.

Mestre Jedi Fazer e falar: A importância de Rose

O desgosto de Rose por Canto Bight contrasta com a animação de Finn. Pra ela, este antro de aproveitadores da guerra representa tudo o que ela vê como problemático para a galáxia. Seu profundo ódio pela apatia da galáxia ao não lutar contra o mal antecipa a falta de resposta dos aliados de Leia em Crait. Para ela, a omissão é tão criminoso quanto os atos brutais perpetrados pela Primeira Ordem. E é destruindo Canto Bight que ela encontra satisfação — “Pare de gostar disso!” protesta Finn após libertarem os fathiers, mas para Rose, a mera necessidade disso para a sobrevivência dele não é o suficiente. Isso só “valeu a pena” quando o último fathier é liberto de sua sela e pode viver no seu habitat natural. Essa consideração pelo fato de que se deve agir para resolver os problemas mais remotos da galáxia é uma característica única de Rose.

E é vital notar que Rose difere de outros heróis de Star Wars por não ter muitos sentimentos pelo passado. Ela tem uma visão mais “desapaixonada”, mais fria, se desfazendo do colar que representa sua ligação com sua irmã morta na guerra como se fosse nada. Rose prefere internalizar qualquer dor que esteja sentindo e seguir em frente. Ela não está tentando reconstruir algo que já se foi para sempre, mas sim tentando mudar o futuro. Ela não quer restaurar a República como a Aliança Rebelde sempre quis (e como Holdo referenciou explicitamente), mas sim construir algo novo. Enquanto ela fala em dar um soco em tudo o que existe em Canto Bight, ela só consegue alcançar isso parcialmente. Diferente de todos, ela na verdade busca um caminho de não-violência, mesmo que isso seja subliminar e não uma escolha ativa.

Mestre Jedi Fazer e falar: A importância de Rose

E chegamos no momento que talvez seja mais controverso da personagem, que é quando ela atrapalha Finn na sua “corrida suicida” em Crait. Há muitas críticas quanto a isso, mas a mensagem muitas vezes não é compreendida. Sacrifício é um tema comum em Star Wars, começando pela morte de Obi-Wan pelas mãos de Vader em Uma Nova Esperança, e chegando em Os Últimos Jedi com as mortes de Paige Tico e Amilyn Holdo. As críticas à ação de Rose vem de uma leitura heroica dos sacrifícios anteriores. Mesmo que sejam nobres mártires, esses sacrifícios foram fúteis. Obi-Wan se sacrifica, mas Vader já havia implantado um localizador na Falcon. Paige destrói o Encouraçado mas Hux sobrevive. Holdo destrói a frota, mas Kylo Ren tem recursos mais do que suficientes para destruir os sobreviventes. Fomos condicionados a essa cultura de nobres sacrifícios, o que foi apontado na última conversa entre Leia e Holdo, onde Leia diz que ela não aguentaria mais perdas, e Holdo responde: “claro que pode.”

Rose rejeita totalmente o conceito de martírio e olha para o todo. Se há um futuro, que seja com pessoas de genuína bravura e fibra moral para estar no coração de um movimento que pode mudar as coisas, não com heróis mortos (vide a lição que Poe aprendeu no filme). Destruir outra derivação da Estrela da Morte, como é tradição, não muda nada, só prolonga o inevitável. Rose salvando Finn, combinado com o ato de não-violência de Luke ao enfrentar Kylo Ren, são só uma das razões em que mostra que o ciclo está sendo quebrado, e que essa guerra será a que acabará com todas as guerras, com uma maneira inteligente de resolver conflitos, sem carnificina ou martírios.

O impacto das escolhas de Rose e Luke são evidenciadas no epílogo, com o menino da vassoura Temiri Blagg — um escravo no coração da cidade mais apática e cínica da galáxia — sonhando em ser um herói como Luke, mas também usando o anel de Rose. Essa cena em Os Últimos Jedi não aconteceria se Temiri não tivesse visto Rose libertar os fathiers – e não, essa cena não tem nada a ver com quem são os pais da Rey, mas sim tem a ver com como o mundo desse menino mudou através dessas histórias, e como sua visão sobre o que ele é capaz de fazer mudou, e como a mente dele está aberta às possibilidades do que ele pode ser. Tem a ver com como ele foi mudado por alguém totalmente “ordinário” e ao mesmo tempo guiado por uma ideologia inabalável. E isso é tão poderoso e vital como qualquer mensagem que Star Wars pode passar.

Adaptação do artigo feito por 1138

Artigo original:
sociedadejedi.com.br