O interesse renovado pela Lua tem sido um fenômeno notável nos últimos anos, impulsionado em grande parte pela ambição de retornar a presença humana ao nosso satélite natural. Desde as missões Apollo da NASA, a Lua tem sido um símbolo de conquista e exploração espacial. No entanto, a visão contemporânea vai além de simples visitas; o objetivo agora é estabelecer bases lunares permanentes que possam servir como plataformas para a exploração espacial mais profunda. A criação de habitats sustentáveis na Lua é um passo crucial para a humanidade, não apenas como um feito tecnológico, mas também como uma preparação para futuras missões a Marte e além.
Um dos desenvolvimentos mais significativos que impulsionaram essa nova era de exploração lunar foi a confirmação da existência de água na Lua em 2009. Utilizando o Lunar Crater Observation and Sensing Satellite (LCROSS), a NASA conseguiu detectar água na forma de gelo nas crateras permanentemente sombreadas das regiões polares lunares. Esta descoberta foi revolucionária, pois a presença de água é um fator determinante para a viabilidade de bases lunares habitadas. A água não é apenas essencial para a sobrevivência humana, mas também pode ser dissociada em oxigênio e hidrogênio, componentes vitais para a respiração e como combustível para foguetes.
A água lunar, no entanto, apresenta desafios significativos para sua extração e utilização. As crateras polares onde o gelo foi encontrado são ambientes extremamente hostis, com temperaturas que podem cair abaixo de -100 °C. Além disso, essas regiões são caracterizadas por terrenos acidentados e sombras perpétuas, tornando a navegação e a operação de equipamentos uma tarefa complexa. A identificação precisa da quantidade e da distribuição do gelo é, portanto, uma prioridade para as agências espaciais, pois determinará a viabilidade econômica e logística de futuras missões.
A exploração da Lua e a utilização de seus recursos naturais, como a água, são componentes essenciais da estratégia global para a exploração espacial. A capacidade de “viver da terra” (in situ resource utilization) reduzirá a dependência de suprimentos enviados da Terra, diminuindo os custos e aumentando a autonomia das missões. Este conceito é fundamental não apenas para a exploração lunar, mas também para a colonização de outros corpos celestes no futuro. Assim, a confirmação da presença de água na Lua não apenas reavivou o interesse científico e exploratório, mas também abriu novas possibilidades para a sustentabilidade das missões espaciais a longo prazo.
A Agência Espacial Europeia (ESA) anunciou recentemente um marco significativo em sua missão de exploração lunar, conhecida como Prospect. Prevista para ser lançada em 2027, a missão Prospect será transportada à Lua pelo programa Commercial Lunar Payload Services da NASA. Esta missão é composta por dois componentes principais: uma broca denominada ProSEED e um laboratório em miniatura chamado ProSPA. Juntos, esses instrumentos têm o objetivo de explorar e analisar a presença de água e outros voláteis na superfície lunar, pavimentando o caminho para futuras missões humanas permanentes.
O ProSEED, componente essencial da missão, é uma broca projetada para perfurar o regolito lunar, o material que compõe a superfície da Lua, até uma profundidade de um metro. A escolha dessa profundidade não é arbitrária; a temperaturas abaixo de -100 °C, espera-se encontrar água na forma de gelo. A broca não apenas coleta amostras, mas também realiza análises preliminares in situ. Equipado com um imageador multiespectral e um sensor de permissividade, o ProSEED pode medir a capacitância do material perfurado, identificando substâncias voláteis e determinando a composição mineralógica do local de pouso. Essa capacidade de análise imediata é crucial para a identificação de locais promissores para a extração de recursos.
Após a coleta das amostras pelo ProSEED, estas são transferidas para o ProSPA, o laboratório em miniatura da missão. O ProSPA é equipado com um carrossel contendo múltiplos fornos, onde as amostras são seladas e aquecidas para liberar os voláteis aprisionados a frio. Este processo permite a medição da natureza e concentração dos voláteis presentes nos gases liberados durante o aquecimento. Além disso, o ProSPA testa métodos de extração desses voláteis, fornecendo dados valiosos para futuras missões que visem a utilização desses recursos in situ. A capacidade de extrair e utilizar água e outros voláteis diretamente da superfície lunar pode revolucionar a logística das missões espaciais, tornando-as mais autossuficientes e economicamente viáveis.
Em suma, a missão Prospect da ESA representa um avanço significativo na exploração lunar. A combinação do ProSEED e do ProSPA não apenas permitirá uma compreensão mais profunda da distribuição de água e voláteis na Lua, mas também testará tecnologias críticas para a extração e utilização desses recursos. À medida que nos aproximamos da data de lançamento em 2027, a expectativa é alta para os dados e insights que essa missão trará, potencialmente transformando nossa abordagem à exploração espacial e abrindo novas fronteiras para a presença humana permanente na Lua.
Compreender a quantidade e a acessibilidade da água na Lua é uma tarefa de suma importância para o planejamento de futuras missões de exploração humana. A mera confirmação da presença de água, embora significativa, não é suficiente para garantir sua utilização prática. É imperativo que se determine não apenas a quantidade de água disponível, mas também a facilidade com que essa água pode ser extraída. Se a água estiver relativamente acessível, a extração local se torna uma opção muito mais econômica e prática do que o transporte de água da Terra. A água lunar pode ser utilizada para diversas finalidades, incluindo o fornecimento de água potável para astronautas, a extração de oxigênio para suportar habitats humanos e a produção de combustível para foguetes, essencial para missões de longa duração.
O ProSEED, componente crucial da missão Prospect, já passou por uma série de testes rigorosos em ambientes que simulam as condições extremas da superfície lunar, caracterizadas por baixas temperaturas e pressões reduzidas. Esses testes têm demonstrado a capacidade do ProSEED de perfurar materiais duros e extrair amostras, validando sua eficácia para a missão real. A precisão e a robustez dos instrumentos de análise, como o imager multiespectral e o sensor de permissividade, foram confirmadas, garantindo que a broca possa identificar e medir substâncias voláteis e a composição mineral do local de pouso. A ProSPA, por sua vez, está equipada para realizar análises detalhadas das amostras coletadas, utilizando um carrossel com múltiplos fornos para aquecer e extrair voláteis, permitindo uma compreensão aprofundada da natureza e concentração desses elementos.
Uma missão bem-sucedida da Prospect não apenas pavimentará o caminho para a exploração humana contínua da Lua, mas também ampliará significativamente nosso entendimento do ambiente lunar. A capacidade de extrair e utilizar recursos locais, como a água, é um passo fundamental para a sustentabilidade das futuras missões espaciais. Além disso, o conhecimento adquirido sobre a distribuição e a acessibilidade da água lunar pode influenciar o design e a logística de futuras missões, tanto tripuladas quanto não tripuladas. A exploração lunar, portanto, não é apenas uma meta em si, mas um trampolim para a exploração mais ampla do sistema solar, incluindo missões a Marte e além. A missão Prospect da ESA representa um marco importante nesse caminho, destacando a colaboração internacional e o avanço tecnológico como pilares essenciais para a exploração espacial do futuro.
Fonte:
https://www.universetoday.com/168352/europe-is-sending-a-drill-to-the-moon-to-search-for-water/
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Artigo original:
spacetoday.com.br