O estudo recente, publicado em 17 de outubro de 2024 e originado da tese de doutorado de Rafael Ramon Ferreira, do Programa de Pós-Graduação em Física do Departamento de Física (DFTE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, reconstitui a relação profunda entre as observações de manchas solares e a história da atividade magnética solar, trazendo insights valiosos sobre os padrões de atividade solar ao longo dos séculos.
As primeiras observações documentadas de manchas solares foram feitas por Thomas Harriot em 1610, seguidas por Johannes Fabricius, Christoph Scheiner e Galileo Galilei no século XVII. Nos últimos 400 anos, avanços nas técnicas de observação e um aumento no número de observatórios realizando monitoramento diário do Sol, especialmente nos últimos 100 anos, permitiram um progresso significativo na compreensão da atividade solar. Contudo, lacunas ainda persistem nas séries de dados das manchas solares. Neste estudo, dados coletados de diversos observatórios foram analisados para preencher essas lacunas, fornecendo uma perspectiva histórica mais completa. Ao examinar dados de manchas solares de longo prazo e compará-los com medições espectroscópicas de emissões de cálcio (linhas Ca II H&K), a equipe explorou a correlação entre a atividade das manchas solares e as emissões cromosféricas, ambos indicadores essenciais da atividade magnética solar, para reconstruir a contagem de manchas solares no passado.
“Este estudo é fundamental para compreender os ciclos de atividade solar ao longo dos séculos, especialmente durante períodos como o Mínimo de Maunder, uma fase de baixa atividade solar observada no século XVII”, afirma Rafael Ramon, pós-doutorando e autor principal do trabalho.
A pesquisa estimou que, durante o Mínimo de Maunder, o índice de atividade solar era aproximadamente 0,167, indicando uma baixa variabilidade cromosférica. Essa descoberta oferece importantes insights para identificar fases de baixa atividade magnética em estrelas similares ao Sol, o que pode ter implicações sobre as condições de habitabilidade em planetas que orbitam essas estrelas. Além disso, o estudo fornece um contexto valioso para compreender períodos silenciosos semelhantes em estrelas gêmeas e análogas solares. Os achados científicos deste trabalho pavimentam o caminho para modelos aprimorados de atividade estelar, auxiliando astrônomos na identificação de estrelas que possam estar em fases de baixa atividade, o que poderia afetar a habitabilidade planetária em seus arredores.
Este estudo destaca a relevância mais ampla do exame de análogas e gêmeas solares para obter insights sobre o potencial de condições de sustentação da vida em torno de outras estrelas menos ativas do que o Sol, considerando que a atividade solar é um fator crítico para o desenvolvimento e manutenção da vida.
Legenda: Modelagem de séries temporais de atividade solar construída a partir das estimativas teóricas realizadas neste estudo. No gráfico superior, apresentam-se as séries de atividade anuais médias usando nosso modelo (pontos pretos) e os dados de observações diárias do SILSO World Data Center (2017) (pontos vermelhos). No gráfico inferior, é mostrada a mesma estimativa para os valores correspondentes ao índice cromosférico. Em ambos os casos, a faixa azul representa a estimativa de erro, enquanto a faixa cinza indica a margem de erro durante o período do Mínimo de Maunder, que ocorreu entre 1645 e 1715, quando as manchas solares se tornaram extremamente raras nas observações solares. Esse período foi nomeado em homenagem a Edward W. Maunder, que estudou como as latitudes das manchas solares variam ao longo do tempo, uma descoberta compartilhada com astrônomos anteriores como John A. Eddy, que também investigou essa fase de baixa atividade solar..
“Nosso estudo revela, com base na reconstituição nos índices atuais de atividade magnética, que durante o Mínimo de Maunder, a atividade solar permaneceu em níveis significativamente baixos e estimados pela primeira vez em termos dos índices espectroscópicos, incapazes serem medidos em 1600. O índice de emissão cromosférica Ca II H&K atingiu valores médios reduzidos, sugerindo uma estabilidade magnética rara, sem precedentes nos 400 anos de estudo do Sol. Esses dados não apenas ampliam nossa compreensão sobre o ciclo solar, mas também fornecem um parâmetro de referência valioso para identificar fases de baixa atividade em outras estrelas solares, como as gêmeas solares. Isso tem implicações diretas para a habitabilidade de planetas que orbitam esse grupo de estrelas,” explica o Prof. José Dias do Nascimento Júnior, astrofísico do Departamento de Física (DFTE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pesquisador associado ao Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics em Cambridge, MA, EUA.
FONTE:
https://academic.oup.com/mnras/advance-article/doi/10.1093/mnras/stae2381/7825873
O post Estudo da UFRN Reconstitui a história observacional da Atividade Magnética Solar apareceu primeiro em SPACE TODAY – NASA, Space X, Exploração Espacial e Notícias Astronômicas em Português.
Artigo original:
spacetoday.com.br