O LEGADO DO CINEMA
Desde que os fãs de Star Wars assistiram à trilogia clássica no cinema, como este que vos escreve, o processo de teorizar o futuro dos personagens demoravam ao menos de 2 ou 3 anos, pois era o intervalo que os filmes possuíam. Portanto, a benção e a maldição permeava nossos tempos livros para especular quais seriam os futuros de personagens como Luke que perdeu seu braço, com Solo que ficou congelado entre outros detalhes que eram comum da imaginação dos jovens que puderam experimentar não apenas a saga de Star Wars, mas todo tipo de filme que nos provocava as imaginações férteis como os filmes de Ray Harryhausen (Fúria de Titãs (1981), Jasão e os Argonautas), Krull, Galática, Último Guerreiro das Estrelas entre outros.
Nesta semana, em Ahsoka tivemos um formato comum de narrar em regime semanal que Dave Filoni já nos testava desde seus arcos incompletos em The Clone Wars ou de Star Wars Rebels, que é o fato de que o episódio termina com um gancho narrativo que torna ao espectador interessado em entender o que ocorre no episódio seguinte. Peter Ramsey, diretor convidado assimilou bem os desejos do showrunner e usou essa ferramenta narrativa que se chama McGuffin e foi citada historicamente por Alfred HitchCock:
– O que é um McGuffin
– É uma armadilha para os leões das Terras Altas escocesas.
– Mas não há leões nas Terras Altas escocesas.
– Bem, então, não há um MacGuffin!”
Sabemos o quanto em entrevistas e palestras o diretor, roteirista e produtor Dave Filoni é um dos maiores herdeiros de George Lucas e por conta disso, traz suas preocupações narrativas pro estilo clássico de seu cinema. Quem está acostumado a char o referencial de diretores que criaram o mundo imaginário de Star Wars, notarão que Akira Kurosawa tem se tornado importante para as obras de Filoni, mas aqui puxamos a outra faceta que este diretor meio cowboy adota pra contar as aventuras. Alfred Hitchcock é talvez a sua maior fonte de inspiração depois de Kurosawa. Quer uma prova concreta? Segue o fio dos nomes dos episódios que Filoni escolheu para cada episódio do arco que culmina no desligamento de Ahsoka da Ordem Jedi.
OS ELEMENTOS NOS FORAM DADOS
Recentemente tivemos a pergunta que não calou para os veículos que cobrem a saga: Quem era Marrok? E a resposta foi visual contendo elementos para os familiarizados com as obras de Filoni, a fumaça verde das necromancias das irmãs da noite. Este gancho é fichinha se comparado ao que tivemos nesta semana. Huyang foi quem aconselhou mestre e aprendiz a não se separarem e trabalharem juntas quando saíram da nave rumo ao mapa. A necessidade obrigou que ambas se separassem e toda calma e domínio de situação que Ahsoka parecia ter resultou em um primeiro susto quando Shin Hati chega ao local sozinha. A fraqueza foi notada pelo seu oponente Baylan Skoll que não poupou seu golpe que derrubasse a samurai espacial do penhasco do mapa. Baylan não a eliminou porque estava longe do que ele desejava para outra sobrevivente da ordem 66. Desferiu um golpe que apenas a tirasse da jogada.
Fallen Jedi, nome do episódio aqui se torna plural nos significados porque atinge Baylan, ex jedi e agora mercenário, atinge a protagonista que sofre uma queda e principalmente quando esta acorda no espaço e tempo do “Mundo entre Mundos” encarando o outro jedi caído, seu mestre Anakin Skywalker. Daí em diante, inúmeras especulações tem surgido aqui na sociedade jedi, em vídeos de outros criadores de conteúdos no Brasil e em todo mundo. E temos de tudo com os elementos que Filoni nos jogou com seu McGuffin: Por que Anakin? O Sabre era do Vader ou reflexo do robe preto? E o Mundo entre Mundos? Por quê?
Enquanto terça feira não chega, vamos relembrar do quanto a jornada do herói de Joseph Campbell já nos mostrou inúmeras vezes os momentos certos pra entender não apenas o “por quê”, mas sim o “para quê”. Na estrutura clássica de narrar a jornada de um protagonista, o que o personagem tem de enfrentar nesta fórmula para contar histórias, faz com que ele percorra certas etapas numa jornada cíclica onde o protagonista abandona seu conforto para descobrir suas verdades para uma provação: a realização promovida pelo herói é uma projeção da nossa própria satisfação de ver, ao menos na ficção, a justiça (ou vingança) sendo servida com vigor.
Assim podemos afirmar que a fase do ventre da baleia é o momento mais rico porque o herói alcança seu momento mais baixo, enfraquecido, ferido, isolado, deslocado de tudo que conhece, despojado de todas as suas armas, seus instrumentos e as vezes até mesmo do seu próprio nome.
Aos mais atentos para histórias bíblicas vão lembrar de Jonas no ventre da baleia (Jonas 1:1-4), mas como nosso foco é o herói, temos então o ventre da baleia como a celebração da escolha cega. Não há garantias de sucesso. Nem de fracasso. Há apenas um momento solene. Um intervalo do mundo. Uma caverna de si. Uma fração de silêncio. Um segundo de escolha.
Você já viu isso em Império Contra Ataca quando Luke Skywalker entra na caverna de Dagobah, ele enfrenta aquil que mais teme: enfrentar seu pai. A geração nova também teve seu momento com as sequels, em Os Ultimos Jedi, Rey entra na caverna de Ahch-Toh e lá também tem sua jornada pessoal e agora, temos Ahsoka que ao que tudo indica, parece estar em seu momento caverna, seu momento no ventre da baleia. Ahsoka por natureza não é uma personagem comum. Primeiro porque Dave Filoni tem nela a fonte de suas inspirações. Outro motivo preponderante é que ela já passou por duas mortes: no arco de Mortis em Star Wars The Clone Wars (Season 3 e episódios 15, 16 e 17) e em Star Wars Rebels ao enfrentar Darth Vader em Malachore (Season 2, episódios 21 e 22 e salva na Season 4 no episódio 13) então ela já vem com carga acima do comum pra um personagem.
ESTAR NO ESCURO TEM SUAS VANTAGENS
Daqui pra frente, considere o que achar mais importante até que o ponteiro marque 22 horas de uma terça feira, mas você terá a chance de ver Ahsoka em sua caverna para sua nova gestação. Tantas vezes relembrada da queda de seu mestre, saberemos agora se a culpa foi abraçada por ela em silêncio e o quanto essa viagem sensorial pode ter um emprego acima do esperado. A série Ahsoka pode carregar uma deficiência de nicho para marinheiros de primeira viagem, pois necessita de outras mídias para total compreensão. Mas também entendemos que embora é interessante para Disney que ao acabar os episódios da série, uma cartela é apresentada com o que há de essencial para entender melhor a série de live Action tornando a “experiência do usuário” num ato de permanência do espectador na plataforma. E se mesmo não aja interesse em assistir as animações, aqui é a hora perfeita para que Filoni possa aproveitar esta viagem sensorial de Ahsoka para explicar de maneira simples e visual o que é o Mundo entre Mundos (sem que precise usá-lo) e o que é a personificação de Anakin Skywalker no mesmo visual da despedida da antiga aprendiz de seu mestre (The Clone Wars Season 7, episódio 9).
Portanto, caro leitor, acalme seu coração e esteja aberto para entrar na mente de Ahsoka e assim conhecer os caminhos omitidos por ela e presenciarmos mais uma superação que se faz necessário para evolução do personagem. E isso diz muito a respeirto de todo núcleo sobrevivente de Star Wars Rebels (além de Ahsoka, Sabine, Hera e também Baylan e o robo milenar Huyang) porque são personagens tentando viver com o peso de passados conflituosos e cheios de feridas mal cicatrizadas. Que ela consiga assim virar a página mal escrita de seu mestre ter se tornado o maior vilão da galáxia e agora sim, mesmo no pós morte, perdoar a si mesmo da culpa que carregou durante todos pós momento de guerras clônicas, e perdoar seu mestre pelo embate sofrido em Malachor. E valorize, pois enquanto a velha guarda esperava de 2 a 3 anos para concretizar suas curiosidades, hoje temos a sorte de esperar apenas uma semana.
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