DUNA e Star Wars, uma retroalimentação criativa de Frank Herbert referenciada por George Lucas

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Com a chegada de Duna aos cinemas, a expectativa das pessoas empolgadas com o universo cinematográfico de sci-fi e a space opera tem ganhado atenção dos fãs de cinema de gênero – aqui vale salientar que cinema de gênero é um nicho específico que gostamos, como sci-fi, fantasia e horror – e como o romance de Frank Herbert de 1965 é influente pros dias atuais.

Poucos imaginam, mas o documentário Jodorowsky’s Dune (2013), de Frank Pavich, é um exemplo de como os caminhos poderiam tomar outros rumos se Alejandro Jodorowsky tivesse de fato ganho um incentivo para rodá-lo em 1976. Talvez nem teria sido criado Star Wars por George Lucas e nossa paixão em cultuar a saga pudesse estar voltada para outros personagens. Se você não assistiu ao documentário, vale a pena conferir quantas ideias geniais mudariam a história do cinema de entretenimento.

O site ScreenRant levantou a importância que uma saga tem para outra e como se pode criar muitos detalhes do universo fantasioso com diferentes empregos ao contar histórias. Denis Villeneuve, diretor de Duna, que estreou nesta semana, já fisgou boa parte dos fãs de sci-fi desde A Chegada (2016) e nos conquistou de vez com Blade Runner 2049 (2017).

O romance de Herbert também demorou um pouco para arranjar um lugar ao lado de obras significativas para o universo fantasioso, tendo inclusive um reconhecimento por parte de Arthur C. Clarke (autor do livro 2001: Uma Odisseia no Espaço), e colocar a história de Paul Atreides e sua linhagem e a busca pelas especiarias como parte integrante dos elementos mais famosos do universo geek da história.

O filho de Herbert, Brian, nos conta na biografia do pai Dreamer of Dune, de 2003, o quanto seu pai viu desconfiado suas ideias serem recicladas por George Lucas em seu pastiche de mitologias e de cultura oriental chegando ao ponto de chamar nossa saga querida de frouxa.

Segue abaixo os pontos citados com um adendo da Sociedade Jedi.

TATOOINE

Visivelmente, assistir Duna e Star Wars temos o primeiro passo de semelhança entre obras: a ambientação.

Tatooine e Arrakis carregam em sua natureza a forte presença de areia, um ambiente árido e muito hostil. Tatooine ainda que se salva por ser um local com visitas variadas de aliens e humanoides, enquanto Arrakis tem seu povo local, os Fremen como legítimos nativos que conhecem todos segredos para sobreviver ao calor, ao administrar água e quais comportamentos devem ter para não serem vítimas dos vermes de areia (Shai Hulud) e assim extraírem melange (a especiaria), uma substância que pode servir desde temperos e até mesmo como psicotrópicos. Os vermes também tem seu lugar sagrado pelos Fremen, que os usam como ritual de amadurecimento de seu povo.

Se Tatooine possui dois sóis, Arrakis possui duas luas o que torna só aqui um ponto bastante observado por George Lucas.

SARLACC e SHAI HULUD

Ambos universos possuem uma fauna vasta, e aqui em Star Wars, pudemos conhecer Sarlacc em O Retorno de Jedi como uma espécie de animal que vivia nas profundezas do deserto e sua cova era aberta pela boca do monstro que exibia seus dentes na superfície convexa. Jabba chamava o lugar de cova ou poço. Já em Duna, os vermes da areia se rastejam submersos na areia (para um provável pavor de Anakin) – algo bem mais próximo do que o Dragão de Krayt fez no primeiro episódio da segunda temporada de The Mandalorian – e seus dentes, quando retirados, se tornavam fortes espadas para os Fremen, chamadas de Kris ou dagacris. Os Vermes também serviam de transporte a laço pelos Fremens mais bem preparados. Por fim, a assinatura final de homenagem de Lucas à obra de Herbert fica pelo nome do lugar onde fica alocado o poço de Sarlacc em Tatooine, no mar das Dunas.

ESPECIARIAS

Um dos pontos que move toda geopolítica em Duna é a obtenção de melange, uma substância que além de tempero, pode ser um entorpecente que pode levar qualquer um para viagens interestelares e que, pelo menos até o primeiro livro, só se encontra nas areias que os vermes Shai Hulud trafegam. É pelo domínio de Arrakis e a obtenção de especiaria que conhecemos o grande confronto das casas Atreides e Harkonnen.

Se as especiarias são motivo de guerras entre colonizado e colonizador no universo de Duna, pudemos conhecer um pouco disso em Jedda para obtenção de cristais Kyber e em Kessel para obtenção e contrabando de coaxium, dos spice mines e das kessel stones.

Recentemente em Star Wars: The Bad Batch, especificamente no episódio 13 intitulado de Infestação, o esquadrão clone 99 precisa obter umas caixas perdidas da recrutadora de caçadores de recompensa, a Cid, em ord mantell com especiarias. Porém, ao que tudo indica, pelos diálogos e o excesso de segredos, que as especiarias da Cid também podem ser conhecidas como “bagulho”, se é que você me entende.

O ÁRDUO TRABALHO DE TIO OWEN LARS

Embora Star Wars tenha um planeta desértico, ainda assim ele tem seu espaço rural, onde Tio Owen e até mesmo Luke trabalharam em vaporizadores de umidade na qual precisavam de androides para dar assistência e nessas que cruzaram com a dupla C-3PO e R2-D2.

Em Duna, alguns Fremens trabalhavam com coletores de orvalho que tinham a mesma função dos vaporizadores de umidade.

Segundo a Wookiepedia Brasil:

Uma fazenda de umidade era uma área de terra dedicada à produção de água através da absorção de umidade do ar seco. Elas dependiam dos vaporizadores, um tipo de dispositivo que podia colher o excesso de umidade na atmosfera. Em mundos desérticos quentes e áridos como Tatooine, cultivar umidade era uma atividade vital. A família Lars, na qual Luke Skywalker era adotado, possuía uma fazenda destas.

O IMPÉRIO, O IMPERADOR

Em Star Wars, em seu primeiro filme de 1977, antes mesmo de surgir a figura do Imperador, conhecemos a situação antagônica que vive nosso herói convocado para sua jornada. O sistema que dominava não apenas um ou dois planetas, mas a galáxia: O Império que marchava subjugando planetas e exterminando dissidentes e oponentes. Aqui, embora o termo “império” seja o mesmo em ambos universos, a complexidade em Duna é menos maniqueísta do que em Star Wars. Às vezes, agindo de forma ambígua e noutras, uma incógnita, as ações do império em Duna são permeadas pelas obsessões do imperador Padashar, que se coloca como oponente do protagonista Paul Atreide, o mesmo quadro que se desenha quando o personagem de Luke Skywalker ganha escopo.

A ALIANÇA REBELDE

Aqui a necessidade de resposta ao movimento imperialista está mais ligada a história da nação do que no comparativo de dois filmes. Em ambas as obras podemos acompanhar o surgimento de grupos resistentes de guerrilha lutando pela liberdade da opressão de uma incursão imperialista. Se, em Star Wars, a proposta de se unir à Aliança Rebelde se amplia em toda galáxia onde o império domina, em Duna essa figura fica por conta dos Fremens em relação ao seu espaço ameaçado no planeta Arrakis.

SOLDADOS IGUAIS NUMA POLÍTICA OPRESSORA

Quando George Lucas criou os Stormtroopers junto a Ralph McQuarrie como concept art e Andrew Ainsworth sendo artista plástico, de princípio, como Star Wars é uma obra destinada ao público infanto-juvenil de 12 anos, ele sabia que a morte de soldados de baixa patente não precisava “ter rostos” pouco antes de morrer. Por isso a elite bélica é normalizada como personagens iguais.

Todos sabemos da fama de Stormtrooper com a péssima mira em memes, porém, dentro do lore de Star Wars, o exército de Stormtrooper era temido de forma coletiva: o grande exército imperial.

Em Duna, essa presença marcante e temida fica por conta do exército de Sardaukar como soldados em nome do império.

Com pouca semelhança estética, fica aqui a forte semelhança do serviço de um exército para manter o domínio imperial na galáxia.

A PRINCESA E A IRMÃ

Imaginem o impacto que a personagem da Princesa Leia teve na segunda metade de 1970 interpretada por Carrie Fisher: uma líder rebelde que batia de frente até com o mais alto escalão do império como vimos nos minutos iniciais de Star Wars – Uma Nova Esperança. Toda realeza temperada com a presença de traquejos da resistência e da guerra dão um tom em Leia Organa que muito nos lembra Alia Atreides em Duna. Em ambos filmes, os irmãos tem forte poder: Luke depois de toda convivência descobre que Leia é na verdade sua irmã. Paul, tem em Alia uma forte personagem exposta à Água da Vida que lhe rendeu fortes poderes de visão sobrenatural e controle de mentes bem parecidos com truques jedi. Leia e Alia acabam por fim tendo mais semelhanças do que apenas na pronúncia e com letras semelhantes.

TRUQUES MENTAIS

Embora a Força em Star Wars é um elemento presente em tudo e todos e só manifesta àqueles que estiverem abertos e propensos a um treinamento para domar a força, em Duna não existe tanta paranormalidade, exceto pela personagem da figura materna de Paul, Lady Jessica, que por conta de sua ligação com a irmandade misteriosa de Bene Gesserit, esse grupo acredita em um futuro iluminado e acredita que possa controlar o futuro da humanidade, implementando um projeto de eugenia (um controle genético de evolução humana) e que o uso de melange amplia os poderes sobre-humanos.

Embora a irmandade Bene Gesserit não tenha telecinese em seu poder, o controle da mente é comumente usado, além de diálogos mentais.

UM CONSELHO JEDI

Na trilogia prequel iniciada em 1999, George Lucas nos trouxe a realidade decadente e institucionalizada e quase burocrática da Ordem Jedi. O conselho, que muito se misturou na política, manipulou e se permitiu ser manipulado com muitos conselhos aos líderes nos bastidores do jogo político. Conforme citamos acima, as Bene Gesserit são um grupo matriarcal que são constantemente acusadas de bruxarias e podem estar em qualquer lugar no universo de Duna, mas o propósito eugenista é o mesmo para um futuro.

A semelhança aqui entre os Jedi e as Bene Gesserit fica no comparativo de clero na história e sua influência na sociedade e nos poderes políticos em um jogo de xadrez no escuro.

O ESCOLHIDO

Aqui costuramos a semelhança dos Jedi e das Bene Gesserit com a existência de uma profecia de um escolhido. Para o universo de Star Wars, o escolhido trará um equilíbrio à Força. Em Duna, as Bene Gesserit acreditam que o escolhido que leva o nome de Kwisatz Haderach trará ascensão da raça humana por manipulação genética. Em ambas crenças, uma figura messiânica é o ponto de convergência nas duas sagas.

EU SOU SEU PAI (COM SPOILER)

Um dos pontos de virada mais famosos na história do cinema, a revelação de Darth Vader à Luke Skywalker é de extrema importância para cultura pop e do cinema, pois revela a linhagem do personagem que é o mocinho do filme com o vilão do filme.

Aqui a semelhança de Duna e até com Game Of Thrones é bem familiar. Paul Atraides descobre que seu vilão antagonista, o Barão Vladimir Harconnen é na verdade o seu avô.

Diferente de Star Wars que Luke descobre a verdade pela boca do próprio carrasco e pai Darth Vader, Paul já descobre sua linhagem de forma indireta – Paul percebeu ao usar sua capacidade cognitiva diferenciada para analisar as características anatômicas de sua mãe.

Por: Prof.º Me. Vebis Jr
Mestre em Cinema 
Especialista em Comunicação 
Graduado em Audiovisual e Multimídia

Revisado por: Alexandre Agassi
Jornalista e entusiasta pela Sétima Arte

Artigo original:
sociedadejedi.com.br