No dia 30 de Junho de 1908, numa parte remota da Rússia, uma bola de fogo foi vista cruzando o céu durante o dia. Em instantes, algo explodiu na atmosfera sobre o Rio Podkamennaya Tunguska da Sibéria, no que hoje é conhecido como Krasnoyarsk Krai, na Rússia. Esse evento ficou conhecido mundialmente como Evento Tunguska, e acredita-se tenha sido causado por um asteroide, ou cometa, que nunca, na verdade, bateu na Terra, mas explodiu na atmosfera, causando o que é conhecido como “air burst”, ou uma explosão de ar, entre 5 e 10 km acima da superfície da Terra.
A explosão liberou uma energia suficiente para matar e deitar árvores por muitos quilômetros ao redor do que pode ser considerado o epicentro da explosão. Mas nenhuma cratera foi encontrada. Em 1908 era praticamente impossível chegar nessa remota região da Sibéria. E ninguém foi lá até 1927, quando Leonid Kulik liderou a primeira expedição de pesquisa soviética para investigar o Evento de Tunguska. Ele fez uma viagem inicial até a região, entrevistou moradores locais e explorou a região onde as árvores caíram. Ele não encontrou nenhum fragmento de meteorito e não encontrou nenhuma cratera também.
Durante anos, cientistas e outras pessoas criaram explicações fabulosas sobre a explosão de Tunguska. Algumas delas muito interessantes, como o encontro da Terra com uma nave alienígena, um mini buraco negro, ou até mesmo a partícula da antimatéria.
A verdade é bem mais ordinária. A probabilidade é que quem pequeno cometa congelado, ou um asteroide rochoso, colidiu com a atmosfera da Terra, em 30 de Junho de 1908. Se foi um asteroide, ele teria aproximadamente o tamanho de ⅓ de um campo de futebol, e se movia a cerca de 15 km/s.
Em 2019, uma nova pesquisa, inspirada por um workshop que aconteceu no Ames Research Center da NASA no Silicon Valley e financiado pelo NASA Planetary Defense Coordination Office, foi publicado, sobre o Evento de Tunguska, numa série de artigos no periódico especializado Icarus. O tema do workshop foi examinar novamente o caso astronômico do evento de impacto de Tunguska em 1908.
As pistas vitais sobre o Evento de Tunguska apareceram no dia 15 de Fevereiro de 2013, quando um meteoro menor, porém impressionante, explodiu na atmosfera perto da cidade de Chelyabinsk, na Rússia.
Nova evidência para ajudar resolver o mistério de Tunguska chegaram. A bola de fogo de Chelyabinsk, altamente documentada criou uma oportunidade para os pesquisadores aplicarem modernas técnicas de modelagem computacional para explicar o que foi visto, ouvido e sentido.
Os modelos foram usados com observações em vídeo da bola de fogo e mapas dos danos causados em solo para reconstruir o tamanho original, o movimento e a velocidade do objeto de Chelyabinsk. A interpretação resultante é que Chelyabinsk foi muito provavelmente um asteroide rochoso do tamanho de um prédio de 5 andares que se rompeu a cerca de 30 km acima da superfície da Terra. Essa explosão gerou uma onda de choque equivalente a uma explosão de 550 kilotons. A onda de choque da explosão destruiu cerca de 1 milhão de janelas e feriu cerca de 1000 pessoas. Felizmente, a força da explosão não foi suficiente para destruir árvores e nem a estrutura de prédios.
Pelo entendimento que temos da população de asteroides, um objeto como o meteoro de Chelyabinsk pode atingir a Terra em média a cada 10 a 100 anos.
Nas décadas recentes, os astrônomos trabalham com a possibilidade de impactos sérios de cometas e asteroides. Porém, hoje é bem diferente de 1908, existem atualmente programas regulares de observação que observam os chamados NEOs – Near Earth Objects. Os astrônomos também se encontram regularmente para conversar sobre o que fazer no caso de um objeto em rota de colisão com a Terra, e as agências espaciais já planejam missões para defletar, desviar ou até destruir asteroides, entre elas a Hera, da ESA e a DART da NASA.
O pesquisador Lorien Wheeler do Ames Research Center da NASA, que trabalha no NASA’s Asteroid Threat Assessment Project, disse:
“Pelo fato de existirem poucos casos observados, existe uma grande incerteza sobre como os grandes asteroides se rompem na atmosfera e o quanto de danos eles podem causar no solo. Contudo, avanços recentes em modelos computacionais, juntamente com análises do evento de Chelyabinsk e outros eventos de meteoros, estão ajudando a melhorar o nosso entendimento desses fatores, assim podemos avaliar melhor as potenciais ameaças de asteroides no futuro”.
O astrônomo David Morrison, também do Ames Research Center da NASA, comentou:
“Tunguska é o maior impacto cósmico testemunhado pelos humanos modernos. Ele também tem as características de um tipo de impacto que nós provavelmente temos que nos proteger no futuro””
Fonte:
https://earthsky.org/space/what-is-the-tunguska-explosion
Artigo original:
spacetoday.com.br