Quase três décadas atrás, Dark Forces chegou aos PC’s com todo o poder de fogo de uma estação de batalha totalmente armada e operacional – e ao fazer isso ajudou a revolucionar os jogos, seja de Star Wars ou outros. Mas mesmo depois de ter mudado o género tal como o conhecíamos, o seu legado persistiu, sua visão da galáxia muito, muito distante continuou a moldar Star Wars até hoje, e mesmo quando ele retorna ao PC e aos consoles em uma nova remasterização.
Desenvolvido pela LucasArts – que até então havia equilibrado dar vida a Star Wars em jogos como X-Wing ou adaptações de filmes para console, bem como séries icônicas de jogos de aventura como Monkey Island ou Day of the Tentacle – Dark Forces representou uma grande inovação para o estúdio. Embora jogos como o mencionado X-Wing, o jogo de arcade Star Wars ou o incrível sucessor de X-Wing, TIE Fighter, tenham proporcionado aos fãs de Star Wars aventuras de jogos a partir da perspectiva em primeira pessoa da cabine de um caça estelar, Dark Forces foi o primeiro Jogo Star Wars no crescente gênero de tiro em primeira pessoa, na época popularizado por nomes como Wolfenstein e Doom.
Mas não foi só trazer um sabor de Star Wars para o gênero. A LucasArts impulsionou os FPSes em Dark Forces em múltiplas frentes tecnológicas com o mecanismo de engine do jogo, chamado Jedi, desenvolvido para Dark Forces, trazendo tudo, desde as habilidades de mapas para ter múltiplas camadas de edifícios com níveis empilhados uns sobre os outros, até padrões agora fornecidos como a capacidade de pular ou olhar para cima e para baixo enquanto atira, ou até mesmo efeitos atmosféricos iniciais, como fumaça e poluição. Embora não seja um verdadeiro motor 3D, o Jedi deu ao Dark Forces alguns elementos 3D iniciais do jogo, tanto no design de níveis quanto em elementos estéticos, como ver sua nave heróica, o Moldy Crow, aparecer em vários níveis, e tudo isso pouco mais de um ano antes do lançamento de Quake que mudaria ainda mais o gênero FPS com um salto total para o 3D.
Entre tudo isso e suas camadas cinematográficas – Dark Forces tinha cenas entre missões 3DCG baseadas em sprites e criadas para contar sua história, incomum para a natureza de correr e atirar do gênero FPS da época, bem como música interativa que poderia ajustar e mudar a trilha sonora com base na ação do jogador – Dark Forces representou um ponto de virada nos jogos. Ele preparou o terreno para a evolução de um de seus gêneros mais vitais em meados dos anos 90, e que a galáxia muito, muito distante revisitaria continuamente nas gerações seguintes. Mas essa história mencionada foi indiscutivelmente tão influente para Star Wars quanto o que Dark Forces fez para os videogames em geral. Embora houvesse exceções notáveis, até esse ponto a grande maioria dos jogos Star Wars colocava você no lugar de heróis familiares – Luke, Han, Leia, as estrelas de cinema que você conhecia e amava – e na maioria das vezes eles recontavam essas histórias. histórias que você conhecia e amava, com ocasionais floreios extras ou imaginação alternativa. Dark Forces não fez nada disso, colocando os jogadores no papel de um personagem totalmente novo, para uma história totalmente nova ambientada na época de Uma Nova Esperança.
Esse personagem era Kyle Katarn, um mercenário – desenvolvido ainda mais no manual de Dark Forces como um ex-graduado da Academia Imperial que foi enganado pelo Império fazendo-o acreditar que seus pais haviam sido assassinados por agentes rebeldes, até conhecer uma agente duplo chamado Jan Ors que se tornaria sua parceira – contratada pela Aliança Rebelde para realizar um grande empreendimento: roubar os planos para a Estrela da Morte. Embora o Universo Expandido de Star Wars acabe tornando a missão de Kyle em uma pequena parte de muitas camadas para adquirir esses planos, o resto de sua história, retomando um ano depois de ele ter sido contratado pela primeira vez, permanece igualmente importante e influente.
Contratado mais uma vez para investigar um novo programa de armas experimentais que está sendo desenvolvido pelo General Imperial Rom Mohc – os Dark Trooper – as missões secretas de Kyle o levaram não apenas às inúmeras camadas do Regime Imperial, mas também ao lado obscuro da galáxia de Star Wars, do comércio de especiarias aos círculos criminosos de caçadores de recompensas e sindicatos Hutt. Para cada missão em Dark Forces sobre infiltração explícita e ataque a alvos Imperiais, a investigação de Kyle o levou a lados da galáxia de Star Wars que nunca haviam estado sob os holofotes antes, tudo sob o manto da escuridão em um mundo de espionagem e contrabando, longe dos atos heróicos ousados que a corajosa Aliança e seus heróis de cartaz realizaram em Uma Nova Esperança.
Kyle também era um herói perfeitamente adequado para esse fim. Ele não era exatamente igual a Han Solo, embora houvesse paralelos óbvios. Han rapidamente se torna um herói fanfarrão mais tradicional nos filmes, mas Kyle estava longe de ser o herói rebelde ou o canalha com um coração de ouro. Ele era um homem ferido pelas mentiras contadas a ele pelo Império e desejando direcionar seu ódio para algum lugar – ele não estava necessariamente lutando pelos rebeldes porque acreditava em sua causa, mas porque poderia decretar sua vingança contra o Império. Ele brincava nas sombras e nos círculos escuros da galáxia porque era onde ele era mais adequado, para a violência, os interrogatórios e o trabalho sujo que a Aliança Rebelde contratava pessoas para fazer para manter as mãos limpas.
Kyle evoluiria quando os enormes sucessos do jogo precisassem de uma sequência em Jedi Knight: Dark Forces II, que, como o título indica, veria Kyle explorar e abraçar seu legado desconhecido como descendente de um Jedi, trazendo-o para um mundo mais tradicionalmente heróico, ele acabaria servindo como Mestre Jedi na Nova Ordem Jedi de Luke Skywalker. Mas mesmo assim, durante grande parte dessa jornada, a luta de Kyle entre a escuridão dentro dele, que ficou clara pela primeira vez no jogo original, e sua vontade de fazer o bem na galáxia, percorreu todo o seu arco. Ele pode ter se tornado uma espécie de colcha de retalhos de heróis de Star Wars ao longo do caminho, mas os pontos fracos que o tornaram único Kyle estavam lá desde o início e deram a Star Wars um herói inquieto, diferente de poucos que vimos até aquele ponto.
Mas infelizmente, o próprio Kyle não é mais parte do cânone de Star Wars – suas duas missões mais famosas nos Dark Forces originais foram separadas e entregues a outros heróis em outros momentos para serem reivindicadas. Mas o legado de Dark Forces e do seu protagonista ainda são vitais para a nossa exploração de Star Wars até hoje. Não se trata apenas dos componentes estéticos ou logísticos que o cânone contemporâneo levantou – como The Mandalorian explorando os Dark Troopers em seu enredo com Moff Gideon, ou o modelo da nave Moldy Crow, o cargueiro leve HWK-290, aparecendo em quadrinhos e jogos de miniaturas, Star Wars ainda é fascinado por explorar as sombras de seu universo e pelos tipos de pessoas que trabalham nessas sombras que seus heróis normalmente não fazem. De Din Djarin a Cassian Andor (sem dúvida o Kyle moderno, até o fato de ele usar o blaster preferido de Kyle em Andor), as histórias atuais de Star Wars são repletas de pessoas que operam fora dos círculos típicos de seus heróis, mercenários e guerrilheiros. que não têm escrúpulos sobre como realizam suas vinganças pessoais, contra o Império ou não. Dark Forces nos apresentou o mundo em que o ponto fraco da revolução prosperou, pois agora vemos explorado no centro das principais histórias atuais de Star Wars, e por mais que Han o tenha inspirado, Kyle agora atua como inspiração para as figuras dessas narrativas.
E agora, pela primeira vez em anos, os jogadores de PC e console podem revisitar Dark Forces sob uma nova luz com o relançamento do jogo, remasterizado pela Nightdive Studios – com as primeiras indicações apontando para uma remasterização que é fiel e apresenta a mesmo existência convincente que chegou pela primeira vez há 29 anos, como se estivéssemos interpretando nossas próprias lembranças suaves de como Dark Forces pareciam e nos fazia sentirnaqueles anos no passado. Ao nos dar essa clareza de propósito – para usar uma frase de outro revolucionário obscuro que segue os passos de Kyle – para revisitar Dark Forces da maneira mais fiel possível, e podemos ver ainda mais claramente o quão importante o jogo e Kyle foram para Sta Wars na época e continuam a ser hoje.
[Adaptado de: Gizmodo]
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