As empresas bem que tentam, mas não conseguem competir com o Android e o iOS, as duas plataformas móveis mais usadas no mundo. Muitas dessas companhias ou deixaram de existir, ou lutam para se manter no mercado, ou ainda optam por não investir mais no setor. Este último é o caso da Canonical, que anunciou o fim do desenvolvimento do Ubuntu para tablets e smartphones.
Revelado em 2013, o Ubuntu para sistemas móveis era parte de um plano maior da empresa, que tinha como objetivo unir todos os softwares em um único sistema, convergindo celulares, tablets e PCs. Isso se daria através da Unity 8, uma interface única que seria usada em todos esses aparelhos. Por exemplo, se o usuário quisesse usar o telefone como um desktop tradicional, bastaria conectar o smartphone a um teclado, mouse, monitor e outros periféricos.
Acontece que foram poucos os celulares com Ubuntu que tinham essa e outras funções prometidas pela Canonical. Na verdade, apenas um modelo, o Meizu Pro 5, recebeu a ferramenta por meio de uma atualização, e apenas duas fabricantes – a espanhola BQ e a própria Meizu – ofereceram suporte ao sistema. Ainda em 2013, a Canonical tentou emplacar um financiamento coletivo para a criação do Ubuntu Edge, mas o projeto fracassou por ter arrecadado menos da metade do valor desejado.
Mark Shuttleworth, fundador da Canonical, diz no blog da empresa que considerava ser revolucionária a ideia de convergir todas as plataformas em um único sistema, mas que, por conta da baixa resposta da indústria, reconhece o erro. O executivo também alega que ele e a equipe por trás da Unity 8 sabem que a interface é “bonita, útil e sólida”, mas que respeitam o mercado e a comunidade. Por isso, “decidimos quais produtos podem ganhar mais destaque e quais podem desaparecer”.
“Acreditei que, se a convergência era o futuro e se pudéssemos entregá-la em forma de um software livre, então poderíamos ampliar [esse conceito] na comunidade de software livre e na indústria de tecnologia, na qual existe uma frustração substancial por causa de alternativas fechadas para as fabricantes. Eu estava errado em ambos os casos. Na comunidade, nossos esforços foram vistos como fragmentação, e não inovação. E a indústria não se animou com a novidade, optando por continuar investindo em plataformas mais conhecidas”, afirma.
Com isso, a produção do Ubuntu para dispositivos móveis está encerrada. A partir de agora, a Canonical voltará a utilizar a interface Gnome Shell como padrão. “Quero enfatizar nossa paixão, investimento e compromisso com o Ubuntu para desktop em que milhões [de usuários] estão inseridos. Continuaremos produzindo o desktop de código aberto mais usado no mundo”, destaca Shuttleworth.
Nuvem e IoT
Embora tenha fracassado no mercado de smartphones, a Canonical alcançou bons índices no setor de computação da nuvem e Internet das Coisas (IoT). Shuttleworth descreve como “muito difícil” a decisão de acabar com a Unity 8, mas que isso vai permitir à empresa focar naquilo que realmente pode trazer novidades para a comunidade e à indústria.
“Temos um excelente histórico do Ubuntu na nuvem e na IoT, e isso continuará a ser melhorado. Todos já devem saber que a maior parte dos escritórios baseados em nuvem pública, assim como a maioria das infraestruturas de nuvem privada no Linux, dependem do Ubuntu. Também já devem saber que a maior parte dos trabalhos de Internet das Coisas nas indústrias automobilística, robótica, de redes e aprendizado de máquinas também está no Ubuntu. O número e o tamanho dos nossos compromissos comerciais em torno do Ubuntu na nuvem e na IoT têm crescido de forma significativa e consistente”, conclui.
Fonte: Ubuntu Insights, Ars Technica