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Eu falo sempre para vocês que é muito complicado estudarmos a nossa galáxia, pelo simples fato de morarmos dentro dela.
Para alguns estudos, lógico que isso é uma vantagem, mas para estudar a galáxia de maneira geral, entender sua estrutura, evolução e outras propriedades estar dentro dela prejudica e muito esses estudos.
O interessante então é encontrar uma galáxia parecida com a nossa, para podermos fazer um estudo de análogos, melhor ainda se encontrássemos uma galáxia que pudesse ser classificada como gêmea da Via Láctea.
E esse tipo de galáxia para a sorte dos astrônomos existe, e uma astrônoma brasileira, a Patrícia da Silva, do IAG da USP pode ser considerada uma especialista nesse tipo de estudo.
Existe uma galáxia no universo chamada de NGC 6744, ela é considerada uma gêmea da Via Láctea, pois possui o mesmo tipo morfológico da Via Láctea, ou seja, espiral com uma barra central e relações similares entre o núcleo e os braços.
Outra vantagem importante dessa galáxia é que ela é relativamente próxima à Via Láctea, 25 milhões de anos-luz de distância, o que faz dela um excelente laboratório para entendermos a evolução da nossa própria galáxia.
E foi isso que a Patrícia fez, junto com o João Steiner seu orientador.
Eles usaram o gigantesco telescópio Gemini Sul para analisar de forma detalhada a galáxia, obtiveram dados sobre a emissão de gases, a cinemática do gás e a composição e a cinemática estelar.
Com esses dados eles puderam traçar a história evolutiva da galáxia.
Essa galáxia tem um fato curioso, ela é classificada como uma AGN, ou seja, aquelas galáxias que possuem um buraco negro supermassivo muito ativo em seu núcleo, mas é muito fraco, e poucas informações existiam sobre o núcleo da galáxia.
Com o estudo, a Patrícia mostrou que a galáxia passou por dois grandes eventos de formação de estrelas, um há 10 bilhões de anos, na formação da galáxia e outro a 1 bilhão de anos atrás, muito provavelmente disparado por um evento de fusão.
Esse estudo mostrou que a galáxia não possuía estrelas jovens e que sim, tinha um núcleo ativo de baixa luminosidade.
Mas a Via Láctea não é uma AGN, o nosso buraco negro é calmo, como essas coisas então se relacionam?
Muito bem, hoje, a Via Láctea não é um AGN, mas no passado pode ter sido, e estudar essa gêmea da Via Láctea traz muitas informações sobre como a nossa galáxia pode ter evoluído.
Essa não é a primeira gêmea da Via Láctea estudada pela Patrícia, ela já estudou outra no seu mestrado.
A sua pesquisa foi publicada no periódico The Astrophysical Journal.
Mais uma vez a astronomia brasileira em destaque, com um trabalho de suma importância.
Deixo aqui os parabéns para a Patrícia, para o João o seu orientador e para todos os astrônomos do IAG, um lugar muito especial, onde me formei e de onde guardo lindas lembranças.
Viva a astronomia brasileira!!!
Fonte:
https://arxiv.org/pdf/1807.02604.pdf
Artigo original:
spacetoday.com.br