Por Luiz Carlos de Sá Carvalho*
As incertezas e desafios enfrentados atualmente pela economia brasileira atingem a todos, empresas e trabalhadores. Afirma-se que o setor de tecnologia da informação, mesmo não estando imune, pode contribuir muito para transformar esta crise em oportunidades. É um setor dinâmico, criativo e inovador, que se integra e molda praticamente todas as atividades humanas e que emprega pessoas com essas mesmas qualidades. Desconhecer, subestimar, desempregar, remunerar ou alocar mal essa mão de obra é incompreensível. Como também são inaceitáveis diferenças no emprego, no tratamento e na remuneração em função de outros critérios que não a experiência e a competência profissionais. Por exemplo, em função do gênero. E, como veremos, elas existem.
Muitas questões relacionadas à participação das mulheres na sociedade têm sido alvo de debates, ações e conscientização, como se viu, por exemplo, no Dia Internacional da Mulher e em diversos atos políticos recentes. Não são questões apenas nossas e incluem, entre inúmeros outros temas, a questão da vocação, da formação escolar básica, da remuneração e da carreira profissional. Por exemplo, pesquisadores americanos têm investigado por que as meninas em geral não se entusiasmam, ao contrário dos meninos, com as chamadas STEM (sigla em inglês que designa matérias ligadas às ciências, tecnologias, engenharias e matemática). E, pragmaticamente, perguntam-se: como atraí-las?
O TI-Rio, Sindicato de Empresas de TI do Rio de Janeiro, realiza estudos regulares sobre as empresas e o mercado de trabalho do setor, que, como o resto da economia do país e principalmente do Rio de Janeiro, tem sofrido muitas perdas. Perdas estas tanto mais graves quanto são empresas altamente qualificadas, mas bem pequenas: em 2015, a média era de 6,8 profissionais técnicos por empresa no Rio, 8,5 em São Paulo e 6,4 no Brasil. Poucos desses profissionais são mulheres. Há quase quatro profissionais homens para cada uma. Pior, embora a remuneração média desses profissionais seja, no Brasil como um todo, 22% superior à dos profissionais de outras carreiras, os homens de TI ganham 11% a mais do que as mulheres no RJ, 13% em SP e 11% no Brasil como um todo! Por quê?
Igualmente graves são as perdas (admissões menos demissões) de postos de trabalho. No RJ, a perda total foi de 4,4% em 2015 e 9,7% em 2016! Em SP, houve um pequeno ganho (1,3%) em 2015 e perda de 1,9% em 2016. No Brasil, ganho de 1% em 2015 e perda de 1,5% em 2016. E as mulheres? Aqui há dados interessantes. Por exemplo, embora seja verdade que, para elas, houve, em 2016, uma perda proporcional de postos de trabalho superior à dos homens, a diferença não foi tão significativa. No RJ, 10,5% (contra 9,7% totais, como foi indicado acima), em SP, 2,6% e no Brasil, 2,4%. Será porque havia menos mulheres empregadas? Ou porque as empresas, afinal de contas, veem poucas razões para fazer diferença na prática? Então por que não há mais mulheres profissionais de TI empregadas nas empresas de TI? Não há procura? Falta formação? Razões históricas?
São problemas que precisam ser compreendidos e atacados. Cada profissional de tecnologia “perdido”, seja mulher ou homem, traz perdas irrecuperáveis para o nosso presente e nosso futuro coletivos. E quem sabe se a recuperação ou compensação dessas perdas não será ainda mais vantajosa se trouxer com ela o aumento da participação feminina?
*Luiz Carlos de Sá Carvalho é engenheiro eletrônico pela UFRJ, doutor em Informática pela Universidade de Paris VI, ex-professor e pesquisador da Universidade de Paris I, professor do Mestrado em Administração da PUC-RJ, nas disciplinas Sistemas de Informação Gerencial e Abordagem Sistêmica das Organizações, sócio e diretor de tecnologia da empresa SPL-Informática, autor de diversos artigos acadêmicos e do livro “Análise de Sistemas: o outro lado da Informática”, exerce há 42 anos atividades como consultor, coordenador de projetos e pesquisador, tendo desenvolvido trabalhos sobre sistemas de informação gerencial e estratégico, metodologias de desenvolvimento de sistemas, planejamento, modelos organizacionais sistêmicos da empresa, formação e aperfeiçoamento de executivos e especialistas, gestão de tecnologia, gestão da informação e conhecimento, organização e planejamento da tecnologia da informação, mudanças organizacionais e culturais na empresa, entre outros.