As marcas e as crateras observadas na Lua são na verdade as cicatrizes dos dias traumáticos e iniciais do nosso Sistema Solar. Asteroides e cometas se chocavam com a Terra e a Lua jovens, provavelmente trazendo água e ajudando também a vida florescer por aqui.
O que aconteceu nesses primeiros dias do nosso Sistema Solar, ainda é algo que é muito debatido. Felizmente, os cientistas podem montar e contar a história da Lua estudando a idade e a composição de diferentes regiões do nosso satélite. Enquanto que as missões na órbita da Lua podem coletar uma grande quantidade de informações bem valiosas, alguns experimentos científicos só podem ser feitos na Terra, com os instrumentos que são muito grandes para serem colocados numa nave e enviados para o espaço. Os experimentos feitos na Terra, podem também ser repetidos em diferentes laboratórios e as amostras podem ser usadas por futuras gerações de pesquisadores que poderão usar uma nova tecnologia para extrair mais informações delas.
E é aí que entra uma das missões espaciais mais importantes do ano, a missão chinesa para a Lua, Chang’e-5, que enviará para a Terra as amostras mais recentes da Lua. A sonda irá pousar na região do Oceanus Procellarum, conhecida por nós como Oceano das Tempestades, uma região cinza escura no canto noroeste da Lua e visível da Terra, até mesmo a olho nu. O local específico de pouso fica perto de um monte na Lua que tem 70 quilômetros de largura e é conhecido como Mons Rümker, pode ter rochas e solo que têm apenas 1.2 bilhão de anos de vida, ou seja, foram formados por um grande evento vulcânico que cobriu a superfície. Essa idade é muito mais jovem do que as amostras trazidas para a Terra pelas missões Apollo da NASA, que variavam entre 3.1 e 4.4 bilhões de anos.
Estudando as amostras de rochas que se formaram relativamente depois na história lunar, os cientistas serão capazes de entender melhor o que aconteceu na Lua no momento em que os organismos multicelulares já estavam presentes na Terra. Sabendo a história da Lua é possível entender melhor como a Terra e outros mundos se formaram e como o nosso Sistema Solar evoluiu.
Nenhuma outra sonda trouxe amostras da Lua para a Terra, desde a missão soviética Luna 24 em 1976. A Chang’e-5 irá tentar vencer esse grande desafio usando uma arquitetura similar das missões Apollo da NASA. A sonda consiste de 4 partes: um módulo de serviço, um lander, ou módulo de pouso, um veículo de ascensão, e um módulo de retorno para a Terra. Na órbita lunar, o lander e o módulo de ascensão irão descer até a superfície, enquanto que o módulo de serviço e o módulo de retorno ficam na órbita da Lua. O lander irá coletar amostras usando uma colherzinha mecânica e uma ferramenta de perfuração que pode escavar 2 metros no solo. Cerca de 4kg de material lunar serão depositados no veículo de ascensão.
O lander, da Chang’e-5 também carrega 3 instrumentos científicos. Um conjunto de câmeras irá documentar o local de pouso, um GPR, ou Ground Penetrating Radar irá mapear a subsuperfície e um espectrômetro irá determinar a composição mineralógica do local de pouso e calcular o quanto de água está preso ali no solo lunar. Os cientistas serão capazes de comparar essas leituras com as amostras que serão enviadas para a Terra.
A Chang’e-5 funciona com energia solar, então ela irá pousar durante a manhã lunar e irá enviar de volta o veículo de ascensão antes da noite cair no seu local de pouso, esse intervalo de tempo equivale a 14 dias terrestres. O veículo de ascensão irá então se aproximar com o módulo de serviço, se acoplar e transferir as amostras para o módulo de retorno para a Terra. O módulo de serviço irá então deixar a órbita lunar em direção a Terra, liberando a cápsula com as amostras pouco antes de chegar.
Os veículos de reentrada na atmosfera da Terra, que veem da Lua viajam bem mais rápido do que aqueles que retornam da órbita baixa da Terra, cerca de 11 km/s contra os 8 km/s. Enquanto que os veículos como os da missão Apollo que traziam humanos e que tinham um poderoso escudo de calor, a Chang’e-5 irá realizar uma manobra interessante, chamada de skip reentry. Ela irá quicar na atmosfera da Terra uma vez para diminuir a velocidade antes de pousar na Mongolia Interior. O local de pouso é o mesmo usado para o retorno de tripulações nas naves Shenzhou.
Fonte:
[https://www.planetary.org/space-missions/change-5]
Artigo original:
spacetoday.com.br